*ULTIMA PHASE DA VIDA DE D. JUAN*
(AMOR DE COSINHA)
Afinal D. Juan vinha, hoje, a morrer d'uma indigestão.
(Palavras d'um grande realista)
Cançado de vãos fogos de Bengalla,
Como Pansa odeei o Pensamento,
E abandonei os ideaes de salla
--Pelo amor da cosinha succulento!
E os meus fortes desejos sensuaes,
--Desejos que hão de dar na morte escura!--
Soluçam só--ó deuses immortaes!
Só pela ama d'um florído cura.
Ella é o forte e esplendido ideal!
Seu cabello é mais fino do que o ouro,
E a sua voz mais bella que o metal,
E os cantos catholicos do côro.
Os seus labios vermelhos e discretos
Lembram romãs das cercas clericaes,
E os seus olhos sombrios são mais pretos
Do que o latim escuro dos missaes!
Se, acaso, o mundo nota-lhe alguns erros,
Compensa-os para mim com bons presuntos;
Os olhos d'ella fazem mais defuntos,
Dos que o padre acompanha nos enterros!
Fugiu de mim a vã melancholia!...
Ella é franca e alegre como a vinha...
E em quanto o padre está na sachristia
Eu devoro-lhe as aves na cosinha.
--Mas, hontem, que gosando o seu amor
Dormia, santamente, entre seus braços,
Bateu, tragicamente, o bom prior,
E a escada rangeu sob os seus passos...
O coração pulsou-me acelerado;
Ella estacou trémula e suspensa....
Mas levou-me a um sitio agasalhado,
--E dormi toda a noute na dispensa.