UM NATAL MÁGICO
UM NATAL MÁGICO
Vivia-se na segunda década do Séc. XXI numa aldeia do interior do País, nos arrabaldes da Cidade – Município. As aldeias circundantes, serpenteadas por vales e montanhas, estavam em vias de extinção, mas esta, pelo contrário, estava sempre a crescer. Todos ali queriam uma morada, porque os seus habitantes, seus vizinhos, são hospitaleiros e amáveis.
Enquanto pelo Concelho se fechavam escolas, ali o número de alunos aumentava. A Escola Básica já tinha lotação esgotada. Tinham passado por aquele espaço escolar grandes pedagogos, formadores de crianças, a fim de estas enfrentarem os desafios da vida.
Há muito que se tinha projectado uma sessão de ilusionismo, com um amador Ilusionista, cuja profissão “séria” fora comandar homens e exercer o poder coercitivo do Estado. Nas folgas, nas férias, estava de coração aberto para dar um pouco de alegria e felicidade a crianças e idosos. Há muito que “nas suas brincadeiras de ilusionismo” mostrava algum jeito e amabilidade. Em espírito de colaboração, indicou a sessão para uma semana de férias, apontando três dias para se escolher a data mais propícia para as crianças. Escolheu-se a véspera de Natal.
A Escola era pequena para receber a rapaziada de todas as turmas, pelo que se decidiu que a sessão de ilusionismo se realizaria no Salão da Sede da Associação Desportiva e Cultural da Aldeia.
Quando as crianças chegaram, acompanhadas pelos professores e senhoras auxiliares, nos bastidores estavam todas as ferramentas preparadas pelo Ilusionista vindo de Castelo Branco, ajudado pela sua assistente de S. Vicente da Beira e uma catequista da Paróquia.
Mais de uma centena de meninas e meninos estava ansiosa, numa expectativa enorme para ver coisas mágicas.
O Ilusionista, um jovem atleta, apareceu de repente e da sua cartola saiu a esvoaçar uma rola branca. Aproximou-se das crianças baralhando cartas e adivinhando todos os números e figuras.
A seguir saiu da cartola um coelhinho, também branco. De todos os lados do ilusionista saíam fitas e mais fitas de diversas cores, rolos de papel. Da boca um nunca acabar de bolas de ping-pong. As crianças estavam fascinadas. Sempre que o mágico, um perfeito psicólogo, verificava oportuno, partilhava com os meninos e meninas as suas magias. Aquelas colocavam a mão na boca e mantinham os olhos bem abertos para não perder um único pormenor. Iam-lhe alimentando a alma: “o acontecimento, a magia mais importante, chegará no fim, estejam bem atentos.”
Chegou o momento de o Ilusionista pedir a todos que fechassem os olhos. Quando os mandou abrir, tinham à sua frente o Menino Jesus, num berço de madeira, embrulhado em mantas esfarrapadas.
Sentiu-se um burburinho no salão, mas o Ilusionista pediu a todos silêncio: “O Menino está a dormir, não deve ser acordado. Ides passar junto dele muito devagarinho, em fila indiana”. Ninguém queria acreditar, tinham ali o Menino Jesus de carne e osso.
O Mágico mandou-os ajoelhar, levantar mãos e olhos para o Céu e todos obedeceram. De repente, o Menino Jesus desapareceu.
Ficaram aflitos, alguns com lágrimas no canto do olho. O Mágico sossegou-os e disse-lhes: “O Menino acordou, estava com fome. Maria, sua Mãe, já está a amamentá-lo e agora vão a caminho de Belém com São José”.
No final as crianças satisfizeram a sua curiosidade e foram ver o camarim improvisado do Ilusionista, a pomba e o coelho branco engaiolados, uma bola de futebol, as bolas de ping-pong… Apalparam e observaram com felicidade os materiais, os equipamentos e as vestimentas mágicas.
No Dia de Natal, os meninos da Escola, que foram à Eucaristia da Paróquia, reencontraram o Menino Jesus, agora guardado pelos seus Pais e pelos Escuteiros da Aldeia.
Aquelas meninas e aqueles meninos nunca mais esqueceram estes momentos mágicos de Natal…
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Dezembro/2018