Uma receita de amor

Que aconteça o que tivermos vontade que aconteça.

Que nada do que desejamos desfaleça.

Que sejamos capazes de dar um ao outro tudo o que queremos dar

Tendo apenas em atenção

O que é de mais elementar

Que o amor nunca se pode forçar

E que um homem e uma mulher que se desejam nunca se podem recusar.

 

E ter também em atenção o que parece vulgar

Que os olhos dizem o que estamos a pensar

E que nunca será possível não dizer a verdade.

Está tudo nos olhos a denunciar.

Os sentimentos de infelicidade, de felicidade

De desejo, de loucura, de ódio, de tranquilidade,

De recusa, de amor, de sentir,

Como é possível mentir?

 

É verdade que os olhos dizem o que estamos a pensar.

É verdade que os olhos dizem tudo isso assim

E não deixam nunca mentir

Mas para  mim

Precisam de ser ajudados a melhor transmitir.

 

Precisam dos lábios e da língua para muito melhor saborear.

Precisam das mãos para muito melhor apreciar.

Precisam dos corpos para muito melhor suar.

Precisam das pernas e dos seios para muito melhor amar.

Precisam da pele e dos sexos para muito melhor acariciar.

 

É verdade que os olhos dizem o que estamos a pensar

Mas não são a acção.

Ficam-se pela contemplação.

 

Por isso digo que se deve cumprir o mais elementar

Sem que nada de absurdo estremeça.

Que aconteça o que tivermos vontade que aconteça.

Que sejamos capazes de dar um ao outro tudo o que queremos dar.

Sem vacilar.

 

Com os olhos

Com os lábios e com a lingua

Com as mãos

Com os corpos

Com as pernas e com os seios

Com a pele e com os sexos.

Como numa receita de amor.

Na dose bem certa e bem medida

Para que nenhuma carícia fique perdida.

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