Vazio de Natureza

Contrário a Alberto Caeiro, sinto-me vazio,
Vazio não só das partes do meu corpo, mas da Natureza,
E da vida, reles vida consumindo-me as raízes,
E dos preâmbulos da morte regando a lama,
E de tudo que nada planta sentido.
Sou um homem da Realidade constante,
Sou um relógio sedimentando o fim,
Sinto-me vazio de Natureza e temporalmente perdido.
Uma muda do século passado,
Já não há jardineiro fitando-me,
Só a chuva, mas não de água, de perdições.
Quem dera se fossemos terra: firme e vazia por fora
Seca por dentro: perfeita aos olhos poéticos.

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