Viajando a vida
Escrevo de pé
numa viagem
que me cansa a fé.
É o destino;
uma mera miragem
que se atravessa no caminho...
Sinto-me a engranagem
de um moinho porque giro
enquanto os outros estão parados.
Não sei se é mais uma miragem
ou a maneira como os estupefacientes agem.
Lanço os dados
para saber a minha paragem.
Atiro-os,
mas caem quando as portas abrem.
Triste sorte(?),
ou falta dela?
À falta de melhor
escolho o fim como escapadela.
Viajo e desfruto a viagem;
apesar de não saber
o que irá acontecer,
o destino segue à margem
e eu limito-me a obedecer.
À vida não lhe temos o controlo;
à morte não lhe temos a escapatória;
para mim, viver em si
é uma grande vitória,
quando o aqui e agora
já são memória.
Por isso levanto a cabeça
e olho os rostos cansados, sonolentos,
esfomeados, atentos,
perplexos, pensativos,
olhando os seus reflexos,
outros tantos, ou mais, que não digo.
Talvez a minha sorte não seja tão má comparada..
Eu apenas sigo como quem não sabe seguir;
talvez eu seja nada
perante um mundo por instruir.
Chega o pica...
Vem sorridente.
Vasculho.. E, como um presente,
um bilhete de ida.
Aveiro..
Não tão triste sorte;
Acabo por aproveitar a viagem por inteiro.
Mas como?
Terei eu sido outro,
que não me lembro,
quando comprei este bilhete?
Tenho pouco deste dia e não relembro,
mas talvez seja um bilhete passado.
A viagem findou...
Sigo este conjunto recém chegado
apressado por ir a algum lado...
A multidão dissipou;
sinto-me perdido
e à vida já não lhe sigo o sentido.