VOLTAS
Autor: Bulhão Pato on Saturday, 9 February 2013
(Improviso) Entre as flores da campina Correm uns certos rumores. Que tu, rosa purpurina, És a inveja das mais flores. F. C. M. És rosa, bem vês; o aroma Que do teu seio rescende, A cor que a folha te accende, A inveja que ao rosto assoma De todas as outras flores, Não t'o diz, quando no prado, Aos primeiros resplendores Do sol que tem despontado, Ergues a fronte singela, Mas ah! quão graciosa e bella?! O lyrio que á sombra nasce, Quando te sente e te aspira, Não sabes como delira!! Não tens visto tanta vez Naquella timida face Redobrar a pallidez? E o rouxinol namorado Que, assim que a lua derrama Seu doce clarão no val Por entre a viçosa rama, Desprende a voz immortal Improvisando inspirado O seu hymno nupcial Á noiva que Deus lhe ha dado! Por quem suspira anhelante? Por quem trémulo se inclina Sobre a veia cristalina? Quem procura nesse instante? --És tu, rosa purpurina! És tu, sim; porém a cor Que tinhas tão viva outr'ora, Porque a vais perdendo agora? Dize, oh rosa, a occulta dor Que te faz tão tristemente Pender a encantada frente! Agora entre as outras flores Correm uns certos rumores... Quaes são, não sei; mas ouvi Que as mais bellas da campina (Por quem és tão invejada) Quando hoje chamam por ti, Dizem--rosa namorada, E não--rosa purpurina. 12 de Maio de 1860.
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