PREFÁCIO DO LIVRO "CONTOS DE OUTRORA HISTÓRIAS DE HOJE"

PREFÁCIO

Pode um desejo imenso
arder no peito tanto
que à branda e à viva alma o fogo intenso
lhe gaste as nódoas do terreno manto,
e purifique em tanta alteza o espírito
com olhos imortais
que faz com que leia mais do que vê escrito.
(Luís de Camões)

Quem tem o privilégio de ler este livro, “CONTOS DE OUTRORA HISTÓRIAS DE HOJE”, do escritor João Murty, com certeza que lê muito mais do que aquilo que está escrito. Repara que o seu desejo de escrever é imenso e que em cada palavra existe uma chama que se introduz no espírito, fazendo os olhos do leitor tomarem a cor da imortalidade.

O escritor trabalha a ficção com a mestria que lhe é peculiar. Contudo, consegue fazer-nos entrar no país dos seus sonhos, abre-nos a porta do seu “Eu” fazendo com que nos sintamos, por momentos, a viver passados e memórias dum tempo que se ramifica com o presente e nos enleia na esperança dum futuro, com estrelas fixas no céu da noite ou de um sol que flameja dando cor a ideais tombados pelos ventos do destino. Só um bom escritor, como João Murty, consegue entrar no âmago do leitor e fazer com que ele não perca uma sílaba, uma interjeição e muito menos uma interrogação.

É de reparar que o escritor traz na alma a sua terra e o seu mar. A não negação das origens põe na pessoa uma constelação de estrelas cintilando e sublimando criatividades bem patentes nestes contos e nestas histórias, onde o saber atinge o degrau supremo.

“O VELHO SOLDADO DE LAGOS”: No velho soldado de Lagos havia qualquer coisa de estranho. (E havia). Caberá ao leitor descobrir.

Em “HARMONIA DO TEMPO”, João Murty começa por falar da sua cidade. Depois vai desenrolando uma história portadora de sonho e realidade, de aventura e desassossego, na busca da desejada paz.

Escrever bem é, além da ficção, conseguir partilhar interioridades que rumam e progridem em direção a uma sábia liberdade, onde há a capacidade dum fortalecimento interior, profundo e feito de partilhas. Escrever é partilhar com os outros os dons preciosos que nos foram predestinados. Nem sempre a tarefa é fácil. Quantas vezes nos fechamos por medos, barreiras e defesas…

“RÉQUIEM PARA UM ANJO”. Além da poesia associada no texto, todo ele emana uma sensibilidade artística e poética comovente e distinta, enaltecendo, ainda mais, a história: “a angústia é o quinhão que me coube por herança, a chaga que me oprime a garganta, o brado do meu coração aqui na terra.”

Cabe a nós, leitores, captar a sabedoria e a inteligência de João Murty e agarrarmos esta oportunidade de lermos, com a alma, a sua escrita, que nos leva ao crescimento duma intelectualidade, onde as palavras abrem estradas para dialogar, comunicar e acariciar os sentimentos de quem põe na mesa a patena das opiniões, para mitigar as ansiedades de quem quer aprender e sonhar.

“HISTÓRIAS DE AMIGOS”, quem não teve ou tem uma história com um amigo. A dificuldade é saber descrevê-la, com a sabedoria e a afetividade aqui mencionadas neste livro, onde a amizade é exaltada de forma única e sincera.

Noutros contos e histórias, existentes neste livro, deparamo-nos com a dimensão do conhecimento do escritor, quando fala sobre política, pobreza, repressão e religião. Aborda, ainda, assuntos relacionados com as vicissitudes dos dias de hoje. Noutros casos, deixa-se banhar pelas recordações das infâncias que se desfazem nas cristas das ondas da nostalgia. Nota-se um cunho muito especial, que o dignifica, pela música clássica, quando fala de Giuseppe Verdi e de outros compositores que se distinguiram pelas melodias que falam às almas inteligíveis.

Sugiro ao leitor que se deixe guiar e abra o coração quando ler esta obra: “CONTOS DE OUTRORA HISTÓRIAS DE HOJE de João Murty, onde a sensibilidade, disponibilidade, solidariedade, amizade e cultura, fazem deste senhor um escritor de excelência!

Portimão, Março de 2016

Bernardete Marreiros

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Comentários

Eu tenho este livro. Estou a gostar muito da leitura. Parabéns ao autor e à editora. O livro está muito bom. Parabéns João Murtinho.