SOLIDÃO

(A insónia prolonga-se no tempo e a utopia flui no destempero da poeira palpitante)

Lavro o destino nos dias que não resistem
Às noites amantes, que inusitadas, caem
Pérfidas, incompletas e imperfeitas.

No entardecer reentram as noites e insistem,
Que partindo, prostituem a verdade e saem
Deixando no seu encanto, ilusões desfeitas.

(Esconjurado na incauta génese da ilusão, queria por um momento só, ser sonho. Sonho de luz angélica e exultante)

Assisto a mais um escurecer do dia
Ao longe, o sol se esfria no ocaso a tremular
É ritual de partida, eco de cântico mudo.

A mente é um vaivém em dispersada melodia
Ao ritmo da noite, os sons convidam a dançar,
Com a agra solidão, vestida de negro, veludo.

(Dizem as arcanas vozes dos espíritos, que tu e eu; fomos sombras cobertas de cio)

No reflexo do meu ser, em matizes inanimadas
Vai a memória das eras, descolorindo amarguras,
Camufladas nas conjeturas paridas na tentação.

Um brado louco urdido em ruidosas gargalhadas
Desmoronam frases feitas, promessas de juras.
Meu riso, invade teu mundo, é o som da resignação.

(Errante neste universo de solidão, apenas levo um punhado de versos escondidos no tempo fugidio)

João Murty

04-11-2016
(Foto: Luís Leitão)

Género: 

Comentários

Parabens por um texto soberbo 

De facto a solidão torna-se quase sempre a

imagem de marca do poeta que clama num mundo resiganado

Abraço fraterno 

FC



Grato meu amigo Federico, pelo seu comentário.

 

Um grande abraço

 

João Murty

"A solidão é professora ensinou-me muitas coisas, inclusive falar só quando ganho oportunidades. Estar calada quando não me é, permitido falar.

Ensinou-me a conformar com o que tenho, o travesseiro, à noite resmungar.

Baixinho pra niguém me escutar".

Madalena Cordeiro