CANÇÃO DO LOUCO
Sob trêmulas sombras ando,
Como um verme desalmado.
Julgais-me um anjo nefando,
À mofa sou destinado!
Em meu mundo vive um bando
De colossos desvairados.
Ouço a voz de um rouco
E à noite, ele me acompanha.
Disse-me ser um dos poucos,
Que de mim não sente sanha.
E, afirma que me fez louco,
Porque a vida é mesmo estranha.
Muitas vezes, um tormento
A luz que me guia invade;
Em veneta, no nevoento
Universo dos covardes,
Eu choro como um avarento
Que não tem mais seu alarde.
Por minha abjeta loucura
Ululo na madrugada...
Vejo um tonel de amargura
E Danaides condenadas.
Sou o pai que carpe a agrura:
- Oh! Minha filha humilhada!
Quando volvem os instantes
Do brumoso elo da vida,
Da pureza dos infantes,
Às nódoas tão doloridas,
Creio que nada é triunfante,
Só o riso da despedida.
Sou rei, sou bravo, sou homem...
Todos tenho dentro em mim.
Essas vozes quando somem
Reflorescem meus jardins;
A comida que eles comem,
Renegarei até o fim.
Durmo nas calçadas frias
E o desvario me conduz;
Sou afeito a rebeldias,
Mas sou filho de Jesus.
No pesar de nossos dias,
Cada um tem sua cruz!
POEMA ESCRITO EM 2002
Comentários
Amanda Amanari
2ª, 20/05/2013 - 23:41
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muito bom :)
muito bom :)