O meu frasco

 

Perdi-me nas tuas palavras, no condão que elas têm de ruborizar as minhas faces, perdi-me em cada letra que fazia parte dessas, estudei-as, minuciosamente, cautelosamente, á procura de algo que ainda não tivesse encontrado.
 
Filtrei-as, tirei delas todas as impurezas, voltei a lavá-las, com cuidado para não as perder, voltei a colocá-las no seu respectivo espaço.
 
Deixei-as à lua cheia para recarregarem as energias que tinham quando foram criadas, escritas, proferidas.
 
A folha de papel que guardei, não tem o cheiro que procuro, não tem som, não tem imagem, mas tem a força das palavras, que valem o que valem.
 
Dirigidas, dedicadas, entoadas da maneira certa, significam aquilo que quero.
 
Escoei para um frasco tudo o que delas filtrei e fechei-o com um cadeado.
 
Guardo-o junto de mim para quando a saudade aperta, às vezes abro-o devagarinho só para degustar algumas palavras, só para voltar a sentir o sabor de cada uma, o arrepio que cada uma delas me causa, só para imaginar um bocadinho de vida.
 
Mas depressa o fecho, porque sentir-lhes o sabor só por segundos amarga-me a boca, queria viver essas palavras, reagir a cada uma delas e como não posso prefiro mantê-las fechadas.
 
Talvez um dia as solte, para que possam alegrar o dia de outra pessoa, mas só o farei quando eu sentir que sou livre o suficiente para as soltar.
 
Sou em palavras mais do que possas imaginar, se não imaginas o que posso ser não me podes compreender, nem tão pouco me podes ler.
 
Porque nunca vais conseguir filtrar as minhas palavras e construíres o teu frasco.
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Comentários

Palavras curtas para te dizer simples este poema é muito fixe,por isso te digo continua que o caminho se faz andando,um abraço e até ao proximo!

Obrigado Nuno pelo comentário ;) 

Assim o farei, devagar que não há pressa, e as letras não se perdem ;) 

 

Beijo R.