Mágoas
MÁGOAS
Podes sair, fugir, correr
Mas não te podes esconder
Por entre a minha sombra
Sempre difusa.
Rasgas o tempo onde te guardas
Nos silêncios do teu querer
Fazes pequenas construções no meu afeto
Prendes nos meus os teus olhos de musa.
Por entre a aleivosia do momento
Posso fingir que não quero ver
Injurias, cânticos, lamurias, feitiços de lua
Onde no rio do além danças nua.
Tenho na mão fechada palavras
Lançadas numa hora sem tempo
Tenho a pele ferrada por símbolos e juras que fizeste
Marcas de falácias e agruras no sentimento.
Tenho o meu olhar fixo nos teus olhos negros
Belos e inquietos de ansiedade
Profundos omissos num olhar permanente
Acorrentado ao meu coração
Por tanto querer um sim
E eles dizerem que não
Podes sair, fugir, correr
Mas não te podes esconder
Na aparência que brincas e jogas
No acaso, sem saber
Envolta na interrogação tenebrosa.
Se amanhã a manhã vier
Rompendo o dia sem que eu sinta
Que a mereça
Então que o sol brilhe
E tudo me aconteça
Neste coração ardente
Em fogueira acesa
De chama bruxuleante viva
A crepitar
Procurando os teus olhos
Sem os encontrar
Incandescentes de angústia
Na chama da incerteza.
E esses teus olhos negros
Ainda choram
Por entre dúvidas etéreas
Desta paixão
Se um dia esses olhos
Disserem sim
Nunca mais por mim
Dizem que não
Podes sair, fugir, correr
Mas não te podes esconder
Pintei o teu amor com
Labaredas de fogo
Enlaçando no meu peito
As cores do teu querer
Escondido nos gestos
Desse sedutor jogo
Tapei esse teu corpo com, as minhas mãos vazias
Procurando esse sonho, que te acalma e descansa
Nas águas alcalinas, que Deus te deu
Misturei tinta de amor ardente
Neste querer que não te alcança
Dardejando palpitante perto
Sem queixume
É um desejar que não sabe
Que existe ou como nasceu
É cair nos teus olhos negros
Embriagado no teu perfume
É sentir o pulsar do teu corpo e beijar
Essa boca rosa de lume
Podes sair, fugir, correr
Mas não te podes esconder
Onde habita o sonho e flui o sentimento
Encontram-se as amarras do teu querer
Porque se eu te perder
Quem é que abraça com força o meu corpo, e entrelaça a minha mão
Fundindo-se por entre acordos de um bolero
Na penumbra do meu leito?
Quem é que me afaga, e alimenta a ilusão
Quem é que me beija, e morde o peito?
Sem ti o sol morre de frio, e o mar se veste de luto
Matando este amor estranho, e devoluto
Nascido em asas brancas, que tu me deste
Pena a pena vai caindo, pela mágoa que me fizeste
Comentários
Militao
5ª, 21/11/2013 - 09:04
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simplesmente inspirador e
simplesmente inspirador e lindo trabalho...parabens!
josé João Murti...
5ª, 21/11/2013 - 12:24
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Obrigado João.
Obrigado João pelo teu comentário. Os poemas lágrimas e a morte do menino poeta, devem estar nas páginas 2 ou 3. Um abraço.
Laurinda Spinola
6ª, 22/11/2013 - 00:29
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Grande poeta. Parabéns.
Grande poeta. Parabéns.
josé João Murti...
6ª, 22/11/2013 - 01:30
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Obrigado
Cara amiga, Todos sofrem, quando estão no mundo. Mas é sabido que a alegria e a tristeza, a dor, o amor e a felicidade, são temperos da vida, integrando os ciclos da nossa caminhada. Por vezes com subidas duras e ingremes, mas também com sombras e fontes as quais suavizam a caminhada. Essas fontes e sombras são os amigos, os anjos na terra. E, tu és um deles. Não precisas de voar, a tua dimensão como ser humano, vai mais longe, mais alto, cuidando de muitas gente. Bem-haja o mundo era diferente se houvesse muito mais pessoas como tu.