ILUSÃO

ILUSÃO

Amei sim…...
Como te amei
Espero os teus braços
Numa espera sem fim
Por ti clamei
Vencida pelo cansaço
Revejo o passado
Choro por ti.

Amei sim…...
Neste sufoco grito por ti
Rasgada de amor
Sem espaço para mim
Largada e louca
Ébria de dor
Num gesto reflexo
Prendi o teu sorriso na minha boca.

Amei sim…...
Vincaste-me as rugas
Marcaste-me os traços
Por lágrimas sem espaço
De olhar circunspecto
Numa espera sem fim
Volúpia de afeto
Espero por ti
Do tempo que chorei
Roubaste-me os gestos
O calor dos abraços
Fiquei mais pobre, mas por ti, fiquei.

Amei sim…...
Amando sem ser amada
Memórias de um gesto perdido
Trajado na ilusão e na mágoa
Decanta o prenúncio abandonada
Ecoa no silêncio murmurante
Lavo o perjúrio de amante
Nos olhos rasos de água
Prendo a dor ao teu nome
Querendo alimentar o sonho
Viver o passado distante
Saciando em ti esta fome
Quimera de um sonho alucinante.

Amei sim…...
Nesta paixão tresloucada
Tu és tudo eu sou nada
De tanto esperar e sofrer
Prendo a ânsia de viver
No silêncio espero por ti
Atada no vazio da espera
Entre nós omissos e nefastos
Por tantos nomes que assumi
Amante por amor cativa
No tempo frio, sem primavera
Maldita desta paixão altiva.

Amei sim…...
Rasgo o tempo, rasgo o véu
Calaram-se de memórias,
Nos meus olhos de pedra
Minhas mãos procuram no meu ser
Forma alada na prece que pedi
Se eu pudesse ter asas, as que o amor me deu
Se eu pudesse voar para aí!
E chegar sem saber
Perdia as minhas asas e caía do infinito
Fechava-me num grito, ficava dentro de ti
Morreria contigo, no caminho para o céu.

João Murty

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Comentários

Excelente. Parabéns.

Cara amiga, estou preparando um livro que irá sair em meados do próximo mês, até lá vou colocando um ou outro poema do livro. Obrigado pelos teu comentários. Um beijinho para ti.

Muito bonito o poema, sonoro,  com belas palavras, bom de 'degustar'...

Abraço!

 

Obrigado por gostar do poema, ele retrata uma fase de uma amiga, atropelada por um vulcão de sentimentos, indecisa, amante, prisioneira de si mesmo- Felizmente como tudo na vida, o tempo decanta o elixir da cura. A vida é grande cobradora e eximia retribuidora e tudo é efémero nesta caminhada de evolução. Possivelmente existe uma "lei do retorno" com uma alínea que consagra «O que faças com os outros sempre retornará a ti»
Este poema emerge dessa vivencia, do que vi, do que acompanhei, do que senti.
Um abraço