Vive

 

Vive, dizes, no presente,

Vive só no presente.

 

Mas eu não quero o presente, quero a realidade;

Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.

 

O que é o presente?

É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.

É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.

Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.

 

Não quero incluir o tempo no meu esquema.

Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas

 

         como cousas.

 

Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

 

Eu nem por reais as devia tratar.

Eu não as devia tratar por nada.

 

Eu devia vê-las, apenas vê-las;

Vê-las até não poder pensar nelas,

Vê-las sem tempo, nem espaço,

Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.

É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.

 

 

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