Carne Mal-Dita

Não sei se será só minha impressão,
mas este mundo virou um deboche!
Já nem preciso largar um tostão
para eu, guloso!, gozar de um broche.

E eu trago as bolas dos olhos pasmadas
com a luxúria do dobrar do século!
Mulheres não querem já ser amadas,
querem apenas do homem seu espéculo!

E eles dizem, sem pudor, «Pões-me um aço!»
E elas dão o sorriso mas não só.
Apalpam-se e riem com ar devasso,
e vão se devorando sem ter dó!

Peço mil desculpas, o meu perdão!
Garanto-vos não ser minha intenção
chocar ninguém com má educação...
Apenas faço uma breve questão:

Para onde se escapou a decência
(Estou pasmado, nunca vi nada igual!)
Para o mundo entrar nesta decadência
dos tão puros valores e da moral?

Não é qu'eu, honestamente, me importe!
Por mim continuem, já que aqui eu
nunca tive em engates muita sorte,
e sempre estimei muito o prazer meu.

Género: 

Comentários

um texto nu e cru

que retrata de algum modo

a decadência de alguns valores morais.

 

Belas estrofes assentes em versos decassílabos.

 

Depois de passar por teu blogue, compreendo melhor 

de onde vem tanta competência poética do autor

- pela qualidade impar dos seus mentores.

 

Muito bem!

1 abraç0o desde as Caldas da Rainha!

_Abílio Henriques.

Folgo muito em receber os seus comentários! Novamente, obrigado.

Sim, sem dúvida que alguns dos meus poetas favoritos, dos quais tenho a maior consideração, exercem uma grande influência em mim, e um pouco também no meu modo de escrever (embora eu esse acho que seja mais livre, pelo menos tento não me preocupar em seguir esta ou aquela fórmula, ou este ou aquele autor, vou escrevendo comforme gosto e acho que convém melhor à ocasião. Claro que há formas de escrever que eu muito aprecio e , naturalmente, tento aproximar-me daquilo que admiro).

Abraço, Abílio! (Desde Proença-a-Nova)

A vergonha acabou-se e moral também, talvez acha ou encontra num cristão que tem temor no coração... Talvez eu disse... É raro o pudor! Está esfriando  o amor!

Sim, tudo isso escasseia. Mas como eu digo no poema, "não é que eu, honestamente, me importe"... Este poema é mais uma crítica aos falsos moralismos que quase nos obrigam a aceitar, do que propriamente à devassidão moral actual (mas também o é, de certa forma). Parece-me que a sociedade em geral se bate por, e afirma como seus, este tipo de valores, sendo que na verdade, a maior parte das vezes, a vontade e as ideias das pessoas são outras.

Obrigado pelo seu comentário, Madalena ;)

Somos libertos por Jesus, mas escravos dos humanos!

De uma certa forma continua a escravidão agora é geral tantos negros como brancos.

Escravos de políticos, escravos de algumas entidades religiosas etc...

Abraços!