Difícil

O difícil não pertence ao lugar do impossível. O difícil é nosso.

Ele chega tranquilo, com ares de novas e grandes possibilidades. Devagar, mostra como qualquer pessoa consegue ser e fazer tão bem o que quiser. Aos poucos, o vislumbre toma conta. Apaixonamo-nos perdidamente pelo novo. Sem que se perceba, as pequenas possibilidades começam a morrer: Erramos os dedos, o encontro é desmarcado meia hora antes, as palavras somem, a fantasia acaba.  O que sobra é raiva. Começamos a travestir o difícil em padrões e costumes. Inventamos regras e com elas nos defendemos dos intransigentes. O difícil agora não é mais possível. Transmuta-se em impossível. O impossível tem roupagem fixa, está sempre aquém e além dos nossos olhos; pertence à outra dimensão. Não se sofre com o impossível, pois ele não pertence a ninguém.

O difícil é sofrer, é arcar com as consequências, é terminar. O difícil é a única coisa sincera que temos.

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Comentários

Nossa! Bem pensado este pensamento!

Abraços! Lindo, admirável!

Difícil? Impossível? Real? Irreal? O que algo é para um e o que é para  o outro? Dependendo da época, do lugar, da cultura, das tecnologias existentes... Assim penso que o impossível é um julgamento relativo ao "espírito do tempo"! Algo que é tido como impossível em uma época e lugar pode (somente há possibilidades) de ser difícil em outro momento histórico, e em outro ainda, ser corriqueiro - cotidiano. Assim, como o poema nos inspira, vislumbramos este nascer do "impossível". Mas, em meu pensar, muitos e variados "impossíveis" não se firmaram sempre como impossíveis. Ocorrendo uma "morte" como impossível e um "renascimento" como possível em outra época e lugar. Ótimo texto!