Santuário dos silêncios

Yuriko Nakamura - The Place to Return

Regenera-se cada noite que despes
 
no santuário dos meus silêncios
 
injectando-me nas veias os sonhos
 
alastrando pela imortalidade do tempo
 
num eco em uníssono
 
descrevendo a brandura dos teus beijos
 
onde lacro minha vida
 
brotando a cada Outono
 
 
Choveu no quintal das minhas
 
impaciências
 
molhando o véu tímido da vida onde
 
escancaro um verso fabricado
 
com tua anuência
 
clareando a torrente de luz
 
onde desabrocha toda a lavoura
 
semeada no santuário dos meus silêncios
 
 
Sôfrego sacio-me na voragem do tempo
 
descalçando cada pedra encaixada na
 
esquina dos ventos
 
onde à varanda te espero cobrindo-te
 
com o edredom dos meus afagos
 
 
Deixarei ali sitiada as condolências
 
enterradas neste poema cruel
 
tamborilando na lápide da vida
 
que regurgita encharcada de benevolência
 
 
Aprontarei os caminhos traçados
 
nos labirintos da noite que feneçe
 
desalmada
 
expelindo todas as palavras unidas
 
na trincheira poética  onde
 
adocico cada silêncio travesso
 
numa  sintonia  de gargalhadas
 
deliciosamente consumadas
 
 
Encerrei este poema quando morri
 
na hipotermia dos dias frios
 
mirando toda a existência esperando
 
pela luz repatriada na elasticidade
 
do tempo fatal
 
onde ratificamos este tratado
 
de amor madrugando em cada
 
lei ou decreto esculpido em nós
 
assim tão brutal
 
FC
Género: 

Comentários

"Onde a varanda te espero, cobrindo-te com o endredon dos meus afagos'

 

Belíssima obra, parabéns poeta.

Abraços