Geral

Sem Título 10.1

Ouve-te para desdizeres da tua irremediável
grandeza dessa forma deves acordar os amarelos
lobos já há muito enterrados. Circunda com muito
cuidado as grutas de água em que tuas mãos serão
desinfectadas. Põe as correntes marítimas na tua
caveira e atenta-te pois o desespero vai-te pôr
garras quando o perverso verso do sol se pôr.

PENSAMENTO

PENSAMENTO! PÁSSARO LIVRE!

LIGEIRO E LEVE!

SEMPRE VOANDO, COMO O VENTO,

SEMPRE CONSTANTE EM SEU VOAR.

 

FUGAZ, SUBTIL...

É A SEMENTE DE SOFRIMENTO,

DE SONHOS OCOS, INACESSÍVEIS...

DE FANTASIAS E NOSTALGIAS!

 

NASCE MIUDINHO, BEM PEQUENINO !

MAS VAI CRESCENDO, SOLTO SEM FREIOS,

SUBLIME FORÇA DE DEVANEIOS.

 

OH PENSAMENTO ! MEU COMPANHEIRO.

SEMPRE DESPERTO! 

SURGES DO NADA E NUM INSTANTE ,

PÕES-ME A CISMAR !

 

ENTÃO NÃO VÊS ?

Sem Título 8

Danças.
E as palavras do corpo
movimentam-se
na extensão doutro corpo
suspenso pela música
junto aos corações a crescerem-se
indefinidos e lentos.
A luz a retocar
a força por fora
dos olhos cúmplices.
Os corpos
a estremecerem-se
um no outro adentro
porque têm muito
que falar subtilmente
entre apaixonado toque
e tremores puro
dos dedos sem ver

Sem Título 7

Devorei pulsos em chamas.
Amplamente o rosto envolto por coágulos de sangue luzidio
a trespassarem as veias estanques como a enrolar
as cores existentes
por dentro.
Certo é percorrerem
todo esse ar
que engole o corpo celeste mergulhado
na textura do nosso corpo temporal.
Fico com as mãos
cheias de ossos trancados.
Levanto
a cauda de um espelho
e alongo as vísceras astronómicas,

Sem Título 6

Cantam as túlipas.
E busco um cristalino mar
dum azul intensamente sensível.
 
Agora há-de sobressaltar-se gemendo
na sua farpada dobra
que me torce as unhas até esmagar
a água em volta do corpo,
por fora e dentro arbitrário,
ao entrar e sair salva,
como a luz florescente
duma janela longínqua debaixo
deste lento mar penetrante.
E faz idênticas espumas polirem meu suspiro

Sem Título 4

desviassem filamentos de pedras pomes ao lume
que mergulha o meu corpo violino
na devassidão das noites picantes conseguiria modelá-la
e antes disto ouvi-la transpirar estanque potência
 
entretanto faço parar o giro desse sol
em espiral indolente
para encher o tempo com sabor corajoso
 
solto-me do soluço maníaco
de um mar afrodisíaco dedal
tanto se mente a si mesmo como devora
o chilrear do aroma azul-celeste divertido

Sem Título 3

fecho os olhos
abro-me nos teus como uma balada impune no seu sangue
oscilante
 
entretido percorro-te, estremeço-me nas veias singulares
depois com a ponta da língua
afável caligrafia reponho as cordas giratórias
 
e andas no meu imenso chão
um chão embalado p'los nossos sorrisos de cetim
só teu, só meu a transformar-se
 
porém nunca a concluir ou terminar salvo esse romance

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