Geral

Sem Título 7

Devorei pulsos em chamas.
Amplamente o rosto envolto por coágulos de sangue luzidio
a trespassarem as veias estanques como a enrolar
as cores existentes
por dentro.
Certo é percorrerem
todo esse ar
que engole o corpo celeste mergulhado
na textura do nosso corpo temporal.
Fico com as mãos
cheias de ossos trancados.
Levanto
a cauda de um espelho
e alongo as vísceras astronómicas,

Sem Título 6

Cantam as túlipas.
E busco um cristalino mar
dum azul intensamente sensível.
 
Agora há-de sobressaltar-se gemendo
na sua farpada dobra
que me torce as unhas até esmagar
a água em volta do corpo,
por fora e dentro arbitrário,
ao entrar e sair salva,
como a luz florescente
duma janela longínqua debaixo
deste lento mar penetrante.
E faz idênticas espumas polirem meu suspiro

Sem Título 4

desviassem filamentos de pedras pomes ao lume
que mergulha o meu corpo violino
na devassidão das noites picantes conseguiria modelá-la
e antes disto ouvi-la transpirar estanque potência
 
entretanto faço parar o giro desse sol
em espiral indolente
para encher o tempo com sabor corajoso
 
solto-me do soluço maníaco
de um mar afrodisíaco dedal
tanto se mente a si mesmo como devora
o chilrear do aroma azul-celeste divertido

Sem Título 3

fecho os olhos
abro-me nos teus como uma balada impune no seu sangue
oscilante
 
entretido percorro-te, estremeço-me nas veias singulares
depois com a ponta da língua
afável caligrafia reponho as cordas giratórias
 
e andas no meu imenso chão
um chão embalado p'los nossos sorrisos de cetim
só teu, só meu a transformar-se
 
porém nunca a concluir ou terminar salvo esse romance

Sem Título 2

Na palma de minha mão
cabem os esguichos daquele emaranhado mar
ofegante
 
esfiam-se cachos de búzios nas bordas
tacteando uma pandemia de linhos a puxarem-se
temperamentalmente
do bico pontiagudo das aves a moer
o céu pálido da boca
amedrontava num arrepio arenoso
 
embora fosse embarcar nas ocas águas
sem os antepassados existirem
decidi riscar
o fundo que não estava destinado

Sem Título 1

Livram-se de súbito
árvores dormidas
no barlavento
de mágoas íngremes
frente aos cotovelos
que te desprendem
ao sorriso
desses rios passageiros.
 
Mais à noitinha
a sua curva de ervas doiradas
desvairam-se longamente
cheias de cheiros graves e furtivos.
 
Ganham voo esquecido
mesmo que emparelhados
atrás do cesto de frutas a escorregar

Talvez

Talvez com um pouco de sorte

Talvez alguns dias do futuro sejam brandos

Talvez um homem chegue a Marte

Talvez Israelenses e Palestinos peçam perdão

Talvez a ONU assuma suas responsabilidades

Talvez o dinheiro perca mais valor

Talvez alguém me telefone

Talvez quem sabe eu a veja na cidade

Talvez aquelas luzes sejam da cidade onde vou

Talvez este avião finalmente pouse

Talvez eu veja alguém no desembarque

Talvez eu tenha febre hoje a tarde

Talvez eu consiga terminar este poema

Olissipo

Sabe ao Tejo e sabe ao sal
e sabe à excessiva alma
de que é feito Portugal.
Tem gosto a eternidade,
ao que é velho e ao que é novo
e ao deslumbre e a saudade.

Cheiram a luz e a brilhos
suas colinas que o sol doira,
Raiada de becos, trilhos,
escadinhas, largos, travessas...
Há em si tanto mistério,
traz nela tantas promessas.

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