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A Festa

A Festa

 

Na minha cidade vai ter uma festa

No meu bairro vai ter uma festa

Na minha rua vai ter uma festa

No meu prédio vai ter uma festa

No meu apartamento vai ter uma festa

No meu quarto vai ter uma festa

Meus travesseiros vão estar na festa

É que o meu amor vai chegar, pra festa

 

Charles Silva

quadras cantadas

Meu nome é bem singelo
Foi-me dado ao nascer
Não que eu o ache belo!?
Mas o conservo até morrer.

Não costumo dar ouvidos
Dizem que poeta é louco
Versos já trago esquecidos
E de poeta tenho eu pouco!

Do que escrevo nada é novo
Mas da minha propriedade...
- Nasci no meio do Povo!
Dele me vem esta saudade.

Falo de mim e do destino
Da alegria e insatisfação
Meu caminho de perigrino
Feito saudade e solidão.

Um lugar ao sol

Um lugar ao sol

 

E o nosso lugar ao sol ficou sem sol, assim como o nosso banco de praça frente ao mar, que agora vazio, contempla um céu cinzento e frio. O solitário banco da praça frente ao mar, não espera mais por nós, está envelhecendo corroído pela ferrugem, pela maresia e pela solidão. Quantos amores lindos aquele banco da praça frente ao mar já acomodou. Pessoas lindas e apaixonadas sentavam-se a contemplar o mar e o amor. Onde hoje é só solidão, cinza, frio e dor, era um lindo lugar ao sol.

 

Charles Silva

Quando escrevo

Quando escrevo parece que o mundo pára.
O dia fica lento e as noites ficam mais rápidas
Meus pensamentos ficam á mil.

Quando eu escrevo parece converso sozinha com o papel
Parece que meu tédio acaba
Minha vida fica organizada
Minhas dores cicatrizam.

Quando eu escrevo eu vivo de novo
Eu posso falar o que eu não conseguiria.
Eu escrevo não para os outros.
Mas para eu guardar num caderno ou numa pasta.
Para que ninguém e ria de mim.

Quase desisti

Quase desisti

Como eu lutei contra tudo que sonhei

Como tentei obliterar tudo que um dia eu ia amar

Como vivi enclausurado sem o meu legado

Como vivi errante e sem alegria por falta da poesia.

 

Por muito tempo eu lutei contra tudo que eu sentia

Não queria saber de poesia

Tudo que um dia eu escrevera

Perderam-se em meio à poeira.

 

Todas as métricas e rimas toda a perfeição

Que com tanta ternura eu fizera

Não dei o valor que pudera fazê-las mais lindas e belas

A enfermeira

Finalmente a paz reina no meu chão, que emoção

Alguém trouxe cobertas para o frio dos meus pés

Com ela também veio o calor que eu precisava

Suturas nas feridas foram feitas com todo cuidado

A hemorragia cessou, o sangue esquentou

Não foi necessária uma transfusão, só carinho

O coração voltou ao seu ritmo normal

Além disso a enfermeira é linda de morrer

 

Charles Silva

Aeroportos

Aeroportos

 

A nova poesia está nas telas, ávidos olhos leem

Um brinde ao passado, um copo de cerveja quente estragado

Venha sim a nova taça de vinho refinado, gelado

Amanhã estarei do lado de quem ora sabe de mim

Serei mais que teu homem, mais que amigo, um abrigo

Eu te cuido, tu me cuidas, cuidamos nós de nós

Fica bem, fico bem, estou bem, fiquemos bem

Temos dinheiro, e os aeroportos não saem do lugar

 

Charles Silva

Mulher de busto

A vez primeira que ela foi vista,
Seviciadas eram as palavras numa pacata voz,
Qual se amada doce nos trovões suaves
De dias quedados perante horizontes inteiros.

A idade cumprimentou o tísico tempo
Ai de nós! Ai de nós!
Mulher de busto sol-posto
Amarelo borrado de vermelho
Tarde penetrada lentamente pelo ouro quente.
Quem sois?
És para mim cabotino sem graça
Pobre amargo, louco sem dente...

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