Coisa que não se procura
Autor: CharlesSilva on Monday, 3 June 2013Coisa que não se procura
Coisa que não se procura
Sinto muito, mas tenho pressa
Sinto muito, mas tenho pressa, não vou esperar construírem-se castelos de areia a beira mar, eu não preciso deles. Certamente o mar os derrubará. Sinto muito, mas tenho pressa. Meus lençóis não gostam de visitas. Eles têm pressa. Já avisei a minha porta, se alguém ela deixar entrar, será para não ter mais nenhuma pressa.
Charles Silva
Já vaguei por ínvios vales,
Como um doudo passarinho,
A fugir de tantos males,
Sempre em busca de meu ninho!
Respirei mais de mil ares
E habitei as ventanias...
Não pilhei os patamares
Que sonhei viver meus dias.
Meu Deus! triste e solitário
Embucei-me em tanto engano,
Só encontrei rente ao calvário
A paixão de um soberano.
Já segui turbas bacantes
E sorri com os mendaces,
E por infindos instantes
Vi a dor correr nas faces.
Eu vou-me embora! Agora o mar me chama.
Não chores Marina, amorosa dama,
Preciso muito as ondas enfrentar.
Ouço da Iara o canto feiticeiro,
Não me iludas c`o pranto derradeiro,
Não vai adiantar.
O mar me chama, escuto o seu gemido...
Mesmo que eu seja um homem dividido,
Minha áurea sina tenho que seguir;
Este desejo é uma brilhante estrela,
Que me conduz à condição tão bela...
No horizonte sumir.
Livre pensar
Estar, querer, poder, ser
Deitar, rolar, levantar, andar
Comer, mexer, brincar, correr
Deixar, saber, vasculhar, observar
Nadar, molhar, enxugar, jogar
Sentir, pegar, tocar, cheirar
Desnudar, respirar, perguntar
Qual é a moral da história?
Charles Silva
OLHOS QUE EU NÃO VI
Um olhar aflito vê olhares tensos
Um olho frio outro de angustia
Olhos que querem se ver, outros que não querem olhar
A retina dissipa-se, aperta-se, molha-se
A dor vista, a alegria escondida, dispersa, disfarçada
Olhos que doem por ver, olhos que ardem por não ver
Olhos contidos quietos desarrumados, desajeitados
Lágrimas que não vieram por não haver um momento certo
Os meus, os teus, olhos que eu não vi.
Charles Silva