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*CARTA ÁS ESTRELLAS*

Ninguem soletra mais vossos mysterios
Grandes letras da Noute! sem cessar...
Ó tecidos de luz! rios ethereos,
Olhos _azues_ que amolleceis o Mar!...

O que fazeis dispersas pelo ar?!...
E ha que tempos ha já, fogos siderios,
Que ides assim como uns brandões funereos
Que levaes o Deus Padre a sepultar?!

Ha que tempos, dizei!--Ha muitos annos?...
E, com tudo, astros santos, deshumanos,
A vossa luz é sempre clara e egual!

Affirmações religiosas

    Ó meus queridos! Ó meus S.tos limoeiros!
    Ó bons e simples padroeiros!
    Santos da minha muita devoção!
    Padres choupos! ó castanheiros!
    Basta de livros, basta de livreiros!
    Sinto-me farto de civilisação!

    Rezae por mim, ó minhas boas freiras
    Rezae por mim escuras oliveiras
    De Coimbra, em S.to Antonio de Olivaes:
    Tornae-me simples como eu era d'antes,
    Sol de Junho queima as minhas estantes
    Poupa-me a _Biblia_, Anthero... e pouco mais!

*A SUA CAMARA*[2]

No ar calado e bom da camara fechada,
Como um ninho d'amor, casto e silencioso,
Um grande cravo branco ergue o caule cheiroso,
N'uma jarra de jaspe, antiga e cinzelada.

Voam aromas bons no ar tranquillo e molle;
Algumas flores vão morrer nas jarras finas,
--Elle sereno vê, nas rendas das cortinas,
Silencioso morrer na sua gloria o Sol!

Todas morrem ao pé, só elle altivo é bello,
No seu vaso de jaspe, entre as demais existe,
--Como um rei infeliz n'um ultimo castello,
Com seu ar virginal e com seu modo triste!

*IDYLIO D'ALDEIA*

Oh! que harmonia!
      Cadente s'esvoaça pela fresta
      D'um visinho postigo!
    (Hostia d'ouro)

Não sei que ha que me impelle
Para o teu escuro olhar!...
É mais branca a tua pelle,
Do que o linho de fiar!

É tua boca um botão,
E o teu riso a lua nova;--
Quem me dera ter na cova
Os _ais_ do teu coração!

Mal podes saber o gosto
Que tive da vez primeira
Que te avistei, ao sol posto,
Debaixo d'esta amoreira!

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