Geral

*TARDE DE VERÃO*

Trepam-lhe pelas janellas
Jasmins, cheirosas serpentes,
E soltam-se as bambinellas
Em pregas indifferentes.

Os lyrios que são uns ais
Suspiram melancholias;
Riem quadros sensuaes
Nas largas tapeçarias.

Satyro ri nas florestas
Niobe soluça magoas,
E escuta-se entre as giestas
A voz rythmica das agoas.

E á luz dubia dos occasos
Ensanguentados do Sul
As camelias dos seus vasos
Olham voltadas o azul.

MEDITAÇÕES SOBRE THEMAS DO ECCLESIASTES

I

_A Celestino Steffanina_

     Vaidade de vaidades, disse o Ecclesiastes: vaidade de vaidades, e
     tudo vaidade.

    (_Capit. I, v. 1_).

Semeador de iniquidades,
Porque é que mandas sobre os teus eguaes?!
O mando o que é? _Vaidade de vaidades_,
Fumo que ao desfazer-se engrossa mais...

Oh minha vista o que é que foi que viste
Cá neste mundo impiedoso e rudo?

_Que só a vaidade existe_
--Em todos nós, e em tudo!...

II

_A Israel Anahory_

Amas, pobre animal! e tens tu pena?...

Amas, pobre animal! e tens tu pena?...
    Sim, póde na tua alma entrar piedade?
    Se póde entrar, eu sei! Negar quem ha-de
    Amor ao tigre, coração á hyena!
        Tudo no mundo sente: o odio é premio
    Dos condemnados só, que esconde o inferno.
    Tudo no mundo sente: a mão do Eterno
    A tudo deu irmão, deu par, deu gemeo.
        A mim deu-me esta gata, a mim deu-me isto...
    Esta fera, que as unhas encolhendo
    Pelos hombros me trepa e vem, correndo,
    Beijar-me... Só não vivo! amado existo!

*Certa Velhinha*

1

Além, na tapada das _Quatorze Cruzes_,
Que triste velhinha que vae a passar!
Não leva candeia; hoje, o céu não tem luzes...
Cautella, velhinha, não vás tropeçar!

Os ventos entoam cantigas funestas,
Relampagos tingem de vermelho o Azul!
Aonde irá ella, n'uma noite d'estas,
Com vento da _Barra_ puxado do sul?

Aonde irá ella, pastores! boieiras!
Aonde irá ella, n'uma noite assim?
Se for un phantasma, fazei-lhe fogueiras,
Se for uma bruxa, queimae-lhe alecrim!

*A TORTURA DAS CHIMERAS*

Les édifices eloquentes...
     Balzac

Quantas vezes, nas noutes pluviosas,
Ou nas limpidas noutes estrelladas,
Como espectros de espinhos e de rosas--
Erguem-se em nós as cousas apagadas!

Que vezes, n'esta vida positiva,
--N'esta comedia lugubre moderna--
Se eleva a outra esphera nobre e viva
Nossa alma mais poetica, mais terna!

Os contornos das cousas despresadas,
Um fundo triste, um muro, umas ruinas
Um mosteiro, um luar--nas almas finas
São como umas celestes madrugadas.

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