Fervet amor
Autor: Augusto Gil on Friday, 23 November 2012A conversa cahiu no casamento.
E defronte de nós, n'esse momento,
Noivava um par alegre de pardaes.
A conversa cahiu no casamento.
E defronte de nós, n'esse momento,
Noivava um par alegre de pardaes.
Segundo as tradicções que vão sumir-se
Na noite secular das priscas eras:
Rugiram contra ti, Homem, as feras,
E as coleras do mar;
Dos ceus revoltos os trovões e os raios;
Qual reprobo vivias no universo
Inerme, nu e só, na sombra immerso,
Sem Deus, sem luz, sem lar!...
Agora és todo nosso: a rude voz da historia
Já póde hoje falar
E dar-te um balancete ás nodoas e á gloria
Rei-sol de _boulevard_.
Que dias d'esplendor! Porém como começa
A noite e a podridão!
Foi Deus que te mandou tambem para a Lambessa
Da eterna punição!
Enfarda a tua gloria e leva-a que é vergonha
Que vejam ámanhã,
Que até lhe depennou as aguias de Bolonha
O abutre de Sedan!
Como uma criança antes de a ensinarem a ser grande,
Fui verdadeiro e leal ao que vi e ouvi.
Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Bendito seja o mesmo sol de outras terras
Que faz meus irmãos todos os homens
Porque todos os homens, um momento no dia, o olham como eu,
Ah, és tu diabo?...
(Lenda mouacal)
Luthero, o frade austero e macilento,
Encontrou a Satan dormindo um dia,
N'uma rua d'Erfurt, á ventania,
Envelhecido, calvo e vinolento.
Dorme! gritou-lhe o frade... a teu contento,
Guloso Pae da Indigistão, da Orgia!
Renunciaste as lições de theologia,
Ó velho corvo mau do Firmamento?!
O mundo como tu é calvo e velho;
A Egreja é o lupanar do Evangelho;
E tu ó ébrio, gulotão, descanças!?...
Poveirinhos! meus velhos pescadores!
Na Agoa quizera com vocês morar:
Trazer o lindo gorro de trez cores,
Mestre da lancha _Deixem-nos passar_!
Far-me-ia outro, que os vossos interiores
De ha tantos tempos, devem já estar
Calafetados pelo breu das dores,
Como esses pongos em que andaes no mar!
Ó meu Pae, não ser eu dos poveirinhos!
Não seres tu, para eu o ser, poveiro,
Mail-Irmão do «Senhor de Mattozinhos»!
Homem livre, o oceano é um espelho fulgente
Que tu sempre hás de amar. No seu dorso agitado,
Como em puro cristal, contemplas, retratado,
Ter íntimo sentir, teu coração ardente.
Gostas de te banhar na tua própria imagem.
Das-lhe beijo até, e , às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,
As queixas que ele diz em mística linguagem.
Minha Marilia,
Tu enfadada?
Que mão ousada
Perturbar póde
A paz sagrada
Do peito teu?
Porém que muito
Que irado esteja
O teu semblante
Tambem troveja
O Claro Ceo.
Eu sei, Marilia,
Que outra Pastora
A toda a hora,
Em toda a parte,
Céga namora
Ao teu Pastor.
Ha sempre fumo
Aonde ha fogo;
Assim, Marilia,
Ha zelos, logo
Que existe amor.