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A CHRISTO

Precisamos Jesus, se não te sentes velho,
Que cinjas novamente o resplendor de luz
E venhas explicar a letra do evangelho
A muitos que hoje vês prostrados ante a cruz!

Ainda não cessou, de todo, essa contenda
Que um dia, ha muito já, tentaste debellar:
E aquelles que são bons e adoram tua lenda
Desejavam tambem ouvir-te hoje falar.

Apenas resoasse o teu verbo indignado,
O latego febril das grandes corrupções,
Iria atraz de ti um mundo revoltado
Que sente na consciencia a luz das redempções.

Ó machinas febris!

Ó machinas febris! eu sinto a cada passo,
Nos silvos que soltaes, aquelle canto immenso,
Que a nova geração nos labios traz suspenso
Como a estancia viril d'uma epopea d'aço!

Emquanto o velho mundo arfando de cansaço
Prostrado cae na luta; em fumo negro e denso
Levanta-se a espiral d'esse moderno incenso
Que offusca os deuses vãos, anuviando o espaço!

Vós sois as creações fulgentes, fabulosas,
Que, vibrantes, crueis, de lavas sequiosas,
Mordeis o pedestal da velha Magestade!

FLOR DA MODA

Alice, o turbilhão das salas elegantes,
Começa a entristecer; ninguem sabe por quê!
Aquella flôr doente amava muito d'antes
As festas, o ruido, as cousas deslumbrantes,
Agora é desolada e penso que descrê.

Que tedio se abrigou na vaga transparencia
D'um todo tão subtil, aerio, divinal.
--Moderna creação da santa decadencia,
Que alia gentilmente ás pompas da regencia
Os indecisos tons d'um ar sentimental?!

Á PAZ DOS POVOS : HOMO, EX HOMINIS LUPO, HOMINIS COOPERATOR

      De lobo te foi dado outrora o nome,
      Lobo que a propria especie devastava
      Cruento e fero, qual não viras nunca
      Leões, pantheras, tigres ou chacaes!...

                  E a fera, quando a fome
                  A incita, é quando crava
                  O dente e a garra adunca
                  Nos miseros mortaes.

      Da massa do teu cerebro colhendo
      A luz consciente e pura das ideas,
      Concebes mil engenhos homicidas,
      Inventos d'infernal destruição!

O QUE EU SINTO...

      Se vejo com pavor as luctas carniceiras
      Que empenham as nações, chamadas as primeiras,
                  Nos campos da batalha,
      Ah! quando a sós comigo e o Eterno me concentro,
      Ouço não sei que voz a mim bradar cá dentro:
                  ==É Deus que ali trabalha==!

*A AGUIA*

No tempo em que era a grande deusa viva
Os deuzes, os heroes e as Musas bellas,
Dizia uma aguia velha e pensativa,
Que fizera a viagem das estrellas:

--Vão-se indo as tradições! e hão-de ir com ellas
Apollo, Jove, Vichnou e Siva!
Um astro é grão de luz; o mar saliva
De ti ó grande Pan!... Só Pan tu vellas!...

Mas quando assim fallava a aguia, eis quando
Se ouviu aquella voz triste bradando
Na Sicilia: _Morreu o grande Pan_!

Desobriga

Os meus peccados, Anjo! os meus peccados!
Contar-t'os? Para que, se não têm fim...
Sou santo ao pé dos outros desgraçados,
Mas tu és mais que santa ao pé de mim!

A ti accendo cyrios perfumados,
Faço novenas, queimo-te alecrim,
Quando soffro, me vejo com cuidados...
Nas tuas rezas, lembra-te de mim!

Que eu seja puro d'alma e pensamento!
E que, em dia do grande julgamento,
Minhas culpas não sejam de maior:

A Vida Anterior

Longos anos vivi sob um pórtico alto
De giganteos pilar's, nobres, dominadores,
Que a luz, vinda do mar, esmaltava de cores,
Tornando-o semelhante às grutas de basalto.

Chegavam até mim os ecos da harmonia
Do orfeão colossal das ondas chamejantes,
Ligando a sua voz às tintas deslumbrantes
Da luz crepuscular que em meus olhos fugia.

Em meio do esplendo do céu, do mar, dos lumes,
Foi-me dado gozar, voluptuosas calmas!
Escravos seminus, rescendendo perfumes,

LYRA XV.

A minha bella Marilia
Tem de seu hum bom thesouro,
Não he, doce Alceo, formado
    Do buscado
    Metal louro.
He feito de huns alvos dentes,
He feito de huns olhos bellos,
De humas faces graciosas,
De crespos, finos cabellos;
E de outras graças maiores,
Que a natureza lhe dêo:
Bens, que valem sobre a terra,
E que tem valor no Ceo.

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