Intervenção

BRINCAR PORQUÊ

Porquê brincar com as palavras
De um texto em ordem na melancolia
Porquê brincar com as letras
De um texto que se estende ao infinito
Porquê brincar com as vírgulas
De um texto mergulhado deste abismo
Porquê brincar com os pontos
De um texto de sublime cor da ternura
Porquê brincar com as páginas
De um livro inacabado por escrever
Porquê brincar e não ler, porquê.

 

 

Para além

Para além do que vês,

Estende-se o que não pode ser visto.

O que não pode ser dito.

O verdadeiro poeta é aquele que consegue rimar no silêncio.

Transformando em verso aquilo que se estende para além do que pode ser visto, ou dito.

Vendo o que ninguém vê , sentindo o que mais ninguém sente.

A benção, a dádiva, o talento.

A maldição, a tortura, a tristeza.

Pólos opostos que se equilibram sobre a sua própria razão de ser.

O facto de terem de coexistir no misto de guerra, e paz a quem chamam de poesia.

Não é suposto

Diz-me como é suposto eu não gostar de ti?

Eu sei que não é suposto eu gostar de ti.

Mas nem sei o que é suposto sentir.

Sinto-te em cada batimento cardíaco, em cada movimento respiratório, em todos os pensamentos flutuantes que interiorizo diariamente.

Não sei se te amo, não sei o que tu chamas de amor.

O nome que damos às coisas é com cada um.

Misturar-me nessas nomenclaturas apenas me mergulha em confusão.

Tudo isto pode, ou não ser preenchido por uma questionável veracidade.

Ambiciono

Ambiciono alcançar algum amor,

Assumo a ânsiedade  assombrando a alma.

Assim aparece-me assustado,

Afogado aderiu à avareza,

Ampliada análise ao apresentar antigos assuntos.

Amputados, amarrados ao anonimato.

Anónimos aprenderam a amar alguém abertamente.

LÁ LONGE

Lá longe, longe perdido nas águas profundas
Do rio que corre, que passa entre as fragas
De seixos escorregadios onde sofro sozinho
No respirar de um simples suspiro de dores

Sede partilhada da tua boca sobre ondas
No desaguar da foz, andam as andorinhas
Nevoeiro de murmuro de uma oração ausente
Feita de argila estéril, seca de morno sangue

MÁGICO LIVRO

Sou um livro mágico
Que tu nunca leste, nem iras ler
Páginas recheadas de amor
Sou uma história que não conheceste

Disfarcei-me num livro de amor
Mas tu nem te deste ao trabalho
De olhar, de o abrir de o tentar ler
Se ao menos o tivesses lido

Terias amado e entendido o meu amor
Recebi abraços, sem ser os teus
Afinal escolheste outro caminho
E morreste sem teres lido
Ou vivido esse amor.

 

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