o recreio cinge-se às palavras que amadurecem as minhas ideias: elas geram faíscas que iluminam os meus arroubos poéticos; e que me permitem examinar os comportamentos humanos.
o mundo inspira-me a escrever sobre os seus trejeitos hipócritas; sobre a pacífica ordenação onde se possa arrevesar a sua textura sadomasoquista; onde se possa impedir a posteridade agoirenta que ele origina.
hoje falo da postura dos homens quando agudizam as suas brigas: eles arbitram as suas profundas desavenças para instalarem no mundo um oásis falseado; eles nomeiam um arauto espiritual que patenteia hipocrisia.
revejo as leviandades da minha juventude como um analista que propaga os seus dislates e os seus motins com isenção: com a caneta aguçada pelos transtornos por que passou; com as suas esclarecidas imperfeições.
a vida das pessoas revela as suas impressionantes adversidades; os trágicos eventos que promovem os seus destinos resignados; que os persuadem a renunciar às suas convicções; que os convertem em obedientes bonifrates.
o pudor que se concentra nas minhas opiniões vigentes impede-me de despoletar a malignidade ou de me deixar seduzir pela escapatória dos proventos; e de procurar o mero sucesso no intuito de me engrandecer.
os meus fardos incluem o riso sarcástico da multidão contra os meus desvairados fervores; contra os meus talentos reprimidos nas cumeadas da solidão; contra as minhas atuações combalidas em busca da liberdade.
brigo contra as minhas crispações quando transmito aos leitores pensamentos relevantes; quando difundo a cultura nos venerados trilhos da poesia; quando homenageio os sábios que nutrem a minha agudeza.
a importância dos sonhos é realçada pelo contexto da minha existência; pela progressão tranquila que alcanço quando componho os meus versos; pela esperançosa urdidura da minha poesia.
venci a minha tristeza quando transpus os dísticos da convivência; quando me apartei dos repugnantes insultos dos homens; quando me protegi dos temporais que afetavam a minha razão.