Meditação

O poema roubado

O poema roubado

Quem roubou o poema
era também um poeta
poeta que rouba poeta
tem cem poemas de perdão.
O que fazer com o poema roubado
se não pode gritá-lo
aos quatro cantos?
Mas roubou e guardou
como se fosse uma joia
de pedras reluzentes.
Sempre o lia de alma culpada
de desejo improcedente
como se fosse seu
o pensamento alheio.
Amargou por toda vida
o poema roubado
que delicia foi o trato
que teve o poeta com o diabo.

Da morte, eu tenho medo

Lembrem-se de mim,
dos risos, do meu jeito,
não esqueçam os meus costumes,
os meus sonhos, meus desejos.
 
Sei que na vida há um limite
e passageiro, tudo se torna,
e o cronômetro do nosso tempo,
infelizmente, não é de brinquedo.
 
Apenas peço, que não se esqueçam,
das minhas lutas, minha carreira,
lembrem-se das minhas palavras,
do meu olhar, minha presença.
 
E aos amigos agora distantes,
aos meus amores, aos meus romances,

Sem direito

Sem direito
Morreu sem direito a luto
Sem direito a velas
Sem direito a preces
Tudo isto porque morreu
Se vivo estivesse
No luto lutaria
Muitas velas acenderia
E uma prece rezaria
Mas morto está
Na memória de todos
Nas curvas da historia
No voo solitário da gaivota
Não luta mais
Não reza mais
Não voa mais
Mas pode ressuscitar
Dentro de uma garrafa cheia
De aguardente quente
De pensamento fumegante
De futuro insipiente

Relógio

Relógio
O tempo esqueceu de apontar
algumas coisas que já não me lembro mais
me parece que o tempo só aponta
coisas grandes e as pequenas deixa pra traz.
Por isso não uso relógio,
seus ponteiros se cruzam sem nada marcar
só avisam que chegou a hora
que já vai correndo embora
na tentativa somente de me apressar.
Acho que por isto não encontro meu tempo
por estar mergulhado nas coisas pequenas
amparo-me nelas como se verdadeiras,
e quando descubro que não sustentam
dou volta e meia pra trás

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