naveguei na crista duma onda impura para poder evoluir; para converter a minha existência numa poderosa afirmação pessoal; para me instalar numa tribuna e acolher os cânones da sublime liberdade.
recheio a vida com versos que anulam os diferendos que sustentei; que me presenteiam com ideias que se opõem aos adestrados caminhos da multidão; que me conferem o sossego de que preciso.
há assuntos que me desconsolam porque caminham lado a lado com a minha intemperança; com as palestras carunchosas da minha juventude; com as reminiscências ásperas do convívio paternal.
toda a coragem é necessária para erigir o nosso futuro através duma poesia adubada pelo vento; através dos tratados dos sábios que estruturam as nossas reflexões; através das fragrâncias que descobrimos para ilustrar a nossa agudeza.
revogo o meu desassossego quando fortifico a concórdia e a temperança; quando transito por lugares onde vislumbro a bondade e a decência; quando invento panaceias contra as minhas deceções.
num recreio me firmo para hidratar a consciência; para que os meus sintomas desvairados prescrevam de vez; para que os bailados palavrosos me espaireçam nos antípodas duma vida desordeira.
as desventuras que sacodem a minha inconsciência são arremessadas para uma poesia que intentam fundamentar; destapam as minhas lembranças para depois morrerem no centro do oásis que inventei.
os ultrajes estão incrustadas no meu pensamento para que eu dialogue com eles; para que os notifique sobre as suas danosas invenções; para que os possa esbater através das ondas transparentes da poesia.
guardo num frasco as asperidades infantis para poder analisá-las: porque as crueldades maternais me forçam a revelar as minhas angústias; porque intento corrigir os eventos traumáticos a que sobrevivi.
o regozijo que experiencio quando percorro os corredores da sapiência... os ilustres terrenos da literatura... os esclarecidos pensadores que me consentem galgar o império da razão... os alvoroços benignos que ilustram a poesia que redijo...