A Caminho
Autor: Francisco Ferreira on Wednesday, 21 December 2016Pouco mais do que nada é o que sou,
um fraco a arrastar sua humanidade.
Nas mãos, além de calos e memórias
de ancestrais carinhos, nada mais eu trago.
Pouco mais do que nada é o que sou,
um fraco a arrastar sua humanidade.
Nas mãos, além de calos e memórias
de ancestrais carinhos, nada mais eu trago.
tenho pressa em destruir as miragens das servidões atirando-as para um recetáculo existencial; elogio a guerrilha que combate as manobras dos prevaricadores ao enfatizar as lágrimas dos poetas.
avanço pelos arruamentos que nascem das traquinadas dum menino para acabarem no paradeiro inóspito das contrições dentro de poemas com ganas em compreender as teses matizadas do futuro.
a ardência renova os dizeres obrigando-os a aumentar o acervo da misantropia; as frustrações apuram a dor vertendo-a no tinteiro da inspiração; o movimento inacabado do abandono transporta a verve por roteiros descontraídos.
relevo as circunstâncias que transformaram o meu exílio num lugar atípico acentuando a filigrana escondida nas suas representações.
os meus litígios são apontados aos muitos paraísos foragidos pelas frestas de janelas impúberes: sou o alvor dentro dum filtro; sou uma parcela desatenta que sorri quando recria o humano entendimento.
os instintos jazem sobre as formalidades que se entrechocam nas ladeiras do consciente, a nomenclatura desvairada recolhendo o brilho da poesia e atropelando aqueles que circulam nas avenidas principais.
Ser mais, e melhor do que fui ontem.
Atingir todos os dias novos patamares.
Aumentar a qualidade, aumentar a quantidade.
Nunca desiludir, Nunca desistir.
Para quê?
Digo-te eu.
Se quando sou mais, o mundo é menos.
Enquanto eu melhoro, o mundo piora o dobro.
Quando aumento a quantidade perco qualidade com certeza.
Acabarei sempre por desiludir alguém.
Terei já desistido certamente.
Para quê?
Diz-me tu.
Convence-me que sem mim o rio não corre para o mar,
a minha existência desagua onde se engatilha o entusiasmo daqueles que traficam emoções: é conveniente fugir para as esferas altas da solidão onde eu possa gritar sem que o povo me açule com manifestos.
as discórdias enlaçam-se às produções ímpares da nossa história com vantagens e preconceitos ao ajuizarem as imperfeições da nossa raça; e com laivos de singeleza quando grudam a crueldade aos alarves que nos implicam.