o lugar das alucinações
Autor: António Tê Santos on Monday, 26 December 2016a água escorre dos meus dedos para o vale da repressão saltaricando de poça em poça até ao lugar donde avisto as ondas de choque da minha existência.
a água escorre dos meus dedos para o vale da repressão saltaricando de poça em poça até ao lugar donde avisto as ondas de choque da minha existência.
replico às agruras com delícias incontáveis ao exaltar a escritura sem que a multidão me disturbe na passagem dos anos febris da criatividade ou na inventariação das façanhas que adornam os meus desempenhos.
a proeza em engastar os sofríveis ganhos franzindo as máculas nos meandros de festas pagãs: as folhas soltas que eu dilacerei, as salvaguardas duradouras por causa da vocação, a fantasia arrastando os hábitos que inculpam a credulidade.
Pouco mais do que nada é o que sou,
um fraco a arrastar sua humanidade.
Nas mãos, além de calos e memórias
de ancestrais carinhos, nada mais eu trago.
tenho pressa em destruir as miragens das servidões atirando-as para um recetáculo existencial; elogio a guerrilha que combate as manobras dos prevaricadores ao enfatizar as lágrimas dos poetas.
avanço pelos arruamentos que nascem das traquinadas dum menino para acabarem no paradeiro inóspito das contrições dentro de poemas com ganas em compreender as teses matizadas do futuro.
a ardência renova os dizeres obrigando-os a aumentar o acervo da misantropia; as frustrações apuram a dor vertendo-a no tinteiro da inspiração; o movimento inacabado do abandono transporta a verve por roteiros descontraídos.
relevo as circunstâncias que transformaram o meu exílio num lugar atípico acentuando a filigrana escondida nas suas representações.
os meus litígios são apontados aos muitos paraísos foragidos pelas frestas de janelas impúberes: sou o alvor dentro dum filtro; sou uma parcela desatenta que sorri quando recria o humano entendimento.