o lugar das alucinações
Autor: António Tê Santos on Sunday, 18 December 2016relevo as circunstâncias que transformaram o meu exílio num lugar atípico acentuando a filigrana escondida nas suas representações.
relevo as circunstâncias que transformaram o meu exílio num lugar atípico acentuando a filigrana escondida nas suas representações.
os meus litígios são apontados aos muitos paraísos foragidos pelas frestas de janelas impúberes: sou o alvor dentro dum filtro; sou uma parcela desatenta que sorri quando recria o humano entendimento.
os instintos jazem sobre as formalidades que se entrechocam nas ladeiras do consciente, a nomenclatura desvairada recolhendo o brilho da poesia e atropelando aqueles que circulam nas avenidas principais.
Ser mais, e melhor do que fui ontem.
Atingir todos os dias novos patamares.
Aumentar a qualidade, aumentar a quantidade.
Nunca desiludir, Nunca desistir.
Para quê?
Digo-te eu.
Se quando sou mais, o mundo é menos.
Enquanto eu melhoro, o mundo piora o dobro.
Quando aumento a quantidade perco qualidade com certeza.
Acabarei sempre por desiludir alguém.
Terei já desistido certamente.
Para quê?
Diz-me tu.
Convence-me que sem mim o rio não corre para o mar,
a minha existência desagua onde se engatilha o entusiasmo daqueles que traficam emoções: é conveniente fugir para as esferas altas da solidão onde eu possa gritar sem que o povo me açule com manifestos.
as discórdias enlaçam-se às produções ímpares da nossa história com vantagens e preconceitos ao ajuizarem as imperfeições da nossa raça; e com laivos de singeleza quando grudam a crueldade aos alarves que nos implicam.
ressurgia a alma pueril quando a minha carripana cursava o trajeto aleivoso até às frívolas danças que me supuravam o viver.
recordo o esquemático porvir que delineei sobre os joelhos trementes, a jaula onde sobrevivi como um corvo alucinado, a batuta que agitava para escorraçar a monotonia.
A desconcertante noção
do tempo a esgueirar-se
alivia a pressão
por mais que aches que não,
de que o hoje nunca é tarde.
Sabeis que vives
quando esqueces quem foste,
O regresso às origens é possivel
se aprenderes a atravessar a ponte.
Subi ao telhado,
descalço
despenteado
despido.
Subi para ver a lua
de onde nunca devia ter saído.
Sentado sobre as telhas
como quem deseja saltar
vislumbro as luzes na cidade velha
invejando o pequeno pardal
por não saber voar.
Visto lá de cima,
tudo parece tão pequeno
A tempestade em mim
torna o meu viver mais sereno.