eu incendeio os preconceitos para transmitir aos outros os meus desígnios febris; para recrudescer a esperança que se instala nos lugares que percorro; para sublimar os meus queixumes.
as utopias que eu inventei para apaziguar a minha rebelião... para difundir as minhas preleções benevolentes... para olvidar os meus fracassados intentos de me ajustar ao universo...
rejeito o amor quando ele é debilitado pela existência mundana; quando ele abrange os destemperados horizontes que trilhei; quando ele suporta os ventos da desgraça; quando ele origina insegurança e solidão.
a minha sensibilidade regressou para contradizer aqueles que promovem a desafeição; para me dispor numa tribuna discorrendo sobre as generosas ideias que produz; para transfigurar a minha existência reprimida.
construí uma ponte desde o universo gerado pela minha imaginação; desde os estandartes da minha juventude; desde os vocábulos acerbos que vou desdobrando; desde a intensa harmonia emergida dos meus cânticos.
o rancor adensou-se nos lugares onde sofri as minhas deceções; onde o meu sofrimento se agravou deixando feridas perduráveis; onde sobrevivi afastado dos meus próprios ideais; onde desenredei os meus enclausurados traumatismos.
a fantasia é uma concha entreaberta onde eu penetro regularmente: onde os malevolentes não entram nem os apóstolos da desventura; nem as recordações traumáticas que me empurraram para o isolamento.
incremento o meu júbilo quando expurgo a alma através da poesia; quando me afasto das guerrilhas torpes para brandir a espada da minha razão; quando expulso os trâmites da controversa vida mundana.
os meus poemas gravam-se na alma para derrubarem os obstáculos que enfrentei; elucidam os rumores que oiço no tugúrio onde habito; afastam as dolorosas lembranças através de vocábulos medicinais; produzem a seiva que coleia pelas veredas da esperança.
transformo qualquer momento em poesia quando repuxo a inspiração desdobrando-a numa terminologia airosa; quando odoro os lugares que percorro impedindo a sordidez que me rodeia; quando transporto nos meus ombros toda a beleza humana.