a formosura entretece os ramais dos meus pensamentos; arrasta consigo uma agudeza que cura os provimentos da dor; impede aqueles que desejam calar as minhas ponderadas dissertações.
oiço palavras ofensivas e sobreponho-lhes os ressentimentos armazenados no meu peito: as garraiadas onde intervim e onde perfurei a harmonia com dísticos de ansiedade; os transtornos que doutra gente absorvi.
os fardos amontoaram-se na alma através dos tumultos que inspirei nos paradeiros mundanos; nos trilhos desprezados onde me abasteci de sofrimento; onde concretizei degeneradas pretensões.
recrio os trâmites da vida quando ajuízo as suas arreigadas contundências; quando invetivo as guerrilhas reinantes e os fardos que elas contêm; quando transmito a minha discordância com as suas proeminentes valorações.
a náusea jaz sobre as opiniões fétidas e sobre os recados inúteis que abundam nas nossas ligações; sobre as empreitadas abjetas que somos obrigados a realizar e que promovem os nossos dislates imaturos.
coloro as paisagens que invento com lucubrações que me transmitem uma grande robustez; que contraem os meus hábitos nocivos para gerarem uma metamorfose exemplar; que rasuram os sítios agrestes onde me demorei.
às vezes o pudor brota dos nossos ancestrais para repercutir ditados vetustos; para gerar uma bonança que nos faça omitir os desacatos onde participámos; que nos faça lamentar as nossas proezas fúteis.
um vendaval sai pelas frestas da alma levando consigo os selos da hipocrisia; os enlaces pútridos que desprezam a honestidade; as atuações corrosivas que os dias vão produzindo; as virtudes balofas que se aperaltam nas pessoas.
inscrevo as análises nos meus tratos para eliminar as agressões que sofri; para que a nefanda gente seja banida dos meus pensamentos; para que eu me apoie num farol de resistência; para que a miragem da fascinação sobreviva em mim.
já não pergunto pelos anos que dissipei nos itinerários da minha existência: agora fujo dos sermões exaustivos que consenti; agora recolho o juízo que estruturei; agora regurgito as minhas convicções poéticas.