enfrento aqueles que revolvem os arquétipos da vida através de dissertações tenebrosas; através de intentos que justificam a partir de doutrinas ofensivas; através do empenho perverso em reprimir o destino dos outros.
os poemas que engendrei para fragmentar as minhas agruras... para erigir um edifício magnífico que me protegesse das agressões... para que o meu fadário se imobilizasse junto ao pedestal da alegria...
sobrevém a alegria quando nos afastamos das nossas experiências conturbadas; quando refletimos nas disputas geradas pela nossa conservação; quando aprimoramos as nossas vidas através de sucessos perduráveis.
acordo para um hipotético sucesso quando desprezo o linguarejar que me enxovalha; quando possuo reflexões que me obrigam a compreender os enleios pútridos; quando afasto o meu pudor no manto negro da existência.
contesto os artifícios que se estendem pela franja do oásis que inventei; pela penumbra duma ascese onde liberto as minhas recordações; pelos lugares impetuosos onde vislumbro as abomináveis discórdias.
o recheio da minha alma situa-se longe do saber que se leciona nas escolas; longe das ambições daqueles que montam as suas tendas no terreno do mundanismo; longe dos alvoroços que perturbam.
a habitual ascensão recupera a lógica das historietas tradicionais: transforma as nossas vidas em lugares-comuns; narcotiza as nossas consciências para depois as verter no abismo das perturbações.
Quando entro no meu quarto, para o meu corpo descansar sinto naquele momento uma voz, para me falar
Olho para todo o lado, meus olhos não vêem ninguém, mas sinto no meu coração um anjinho, chegar do além
Tenho naquele momento uma tão grande alegria, olho e vejo sair do céu, Jesus e sua mãe Maria
rogo aos deuses que me legitimem lá nas alturas onde possuirei a sageza dos inúteis; onde a morte é uma roda que perdurará envolta em sigilo; onde abandonarei a minha revigorante poesia.
mais uma vez
e por ora chega de procurar
a sorte inverossímil
e que não me desnorteie
um desvario impossível
e o deslumbre por tudo que há
como uma exigência
que me atenue o fado
da viver isento no mundo
sem menosprezar porém
a cota de vida
que me resta viver ainda
