rogo aos deuses que me legitimem lá nas alturas onde possuirei a sageza dos inúteis; onde a morte é uma roda que perdurará envolta em sigilo; onde abandonarei a minha revigorante poesia.
mais uma vez
e por ora chega de procurar
a sorte inverossímil
e que não me desnorteie
um desvario impossível
e o deslumbre por tudo que há
como uma exigência
que me atenue o fado
da viver isento no mundo
sem menosprezar porém
a cota de vida
que me resta viver ainda
o convívio humano interferiu no fulcro da minha existência: no teatro virulento onde atuei perseguindo um sucesso que frustrou; no caos durável que proveu as minhas ingratas recordações.
quando saltariquei de poça em poça obtive a aprovação dos meus extravagantes ideais; das profusas manias inscritas no historial das minhas desventuras; das minhas pungentes tentações.
acordei para o oco dos dias para dilucidar os enigmas guardados no baú das minhas transfusões; para sacudir o mundo que forjei através dos meus devaneios inocentes; para me libertar dos agravos profundos.
as minhas exposições são geradas pelas atitudes dos outros e pela profusão de cardos que elas regurgitam; pelas farpas cravadas na minha alma ressentida; pelos traumatismos estampados na minha transparência.
deixo que as palavras sintonizem os tumultuosos lugares onde persisti: onde entornei o meu destino na vasilha do opróbrio; onde reduzi a escombros o meu discernimento; onde submergi a alma nos enredos da melancolia.
as meditações dilatam-se para emendarem os meus rodopios insalubres; para cingirem as narrativas avivadas pelo meu idealismo; para retorcerem os paradigmas desprezíveis da condição humana.
os ébrios trilhos da madrugada potenciaram os meus devaneios juvenis; os meus constrangimentos existenciais; a fragilidade reunida às minhas volúveis impressões; os meus numerosos alvoroços.