os cardos da memória
Autor: António Tê Santos on Thursday, 5 January 2023demando a sabedoria para abarcar o mundo e as suas bravatas cruéis; para conceber um antídoto contra a sua penúria moral; para suprimir os seus códigos ultrapassados.
demando a sabedoria para abarcar o mundo e as suas bravatas cruéis; para conceber um antídoto contra a sua penúria moral; para suprimir os seus códigos ultrapassados.
iludem-se os que agasalham a virtude longe da misantropia e da solidão; longe dos eruditos que justapõem ao seu fado os ideais benignos que os contêm; longe do remanso da alma e dos seus tratos benevolentes.
a angústia imprime-se nos nossos semblantes quando a miséria de viver nos esporeia os traumatismos; quando imergimos no universo pardacento que nos circunda; quando abocanhamos a existência para usufruirmos os seus presentes falseados.
inscrevi na alma os motejos dos energúmenos que predominaram nos lugares que frequentei: com a fleuma dum renegado e com a inteireza dum solitário que esclarece na sua poesia as ofensas que superou.
defendo aqueles que imprimem na vida as suas adversidades: defendo-os com os apetrechos da minha obstinação e das suas vastas rebeliões; defendo-os transpondo os estigmas da minha ambígua natureza.
aprofundo as rivalidades que grassam no mundo: as dádivas que buscam alcançar nos lugares onde persistem os selos da hipocrisia; onde a mediocridade estorva a afirmação do que é original.
reflito nos vereditos que desaguam em tanta malevolência; que se inspiram na corrupção de muitos livros didáticos; que expulsam a ternura que aflora ao rosto dos homens.
evito a poeira que flutua no ar para refletir no mundo e nas suas crises deprimentes; para rebater as suas misérias e os seus transtornos duradoiros; para divulgar as suas atrocidades.
engendro uma terapia contra a dor através de versos que eu seleciono contra as emboscadas às minhas quimeras: através de pétalas que caem dum edifício violento para revestirem os meus sobressaltos.