os cardos da memória
Autor: António Tê Santos on Tuesday, 29 November 2022a angústia impulsionou-me para o teatro das configurações delituosas; depois para o vácuo onde a tristeza predomina; depois para o fulcro da solidão onde encontrei a poesia.
a angústia impulsionou-me para o teatro das configurações delituosas; depois para o vácuo onde a tristeza predomina; depois para o fulcro da solidão onde encontrei a poesia.
a erudição orienta as nossas deambulações quando nos obriga a entender o mundo e os seus alvoroços celerados; quando transfere para a nossa inteligência os seus corolários dominantes.
a poesia sangra os desafetos que caracterizaram a minha existência juvenil; os suplícios narrados pela minha alma ressentida; as minhas atuações extravagantes.
existe um lugar ávido onde dilacero o infortúnio sempre que escrevo poesia; onde tonifico o meu bem-estar; onde esclareço a sensibilidade através dum apurado raciocínio.
recordo as peripécias que acicataram o meu engenho e a minha determinação; que erigiram o tugúrio onde me defendi das intempéries; que transformaram as minhas reflexões em mensagens capitais.
a textura da amizade dirige o poeta até um bem-estar que o ludibria: ignora as suas vitórias sobre o temor e a perfídia; instala as suas emoções no palanque da candura para logo as dissolver no desencanto.
derramei a hipocrisia no escoamento da minha consciência para a juntar às angústias e às facécias colossais; e à proeminência dos meus sonhos malogrados; e às numerosas adversidades que enfeitaram o meu regaço.
na letargia me firmo após requerer ao mundo a sua turbulência inspiradora; após matar a saudade e os seus impressivos tormentos; após abolir os meus pudores antigos e as minhas condutas imprudentes.
É o lamento não equivocado
em um momento, a revelação
na minha lembrança estão os oásis fraudulentos que nutriram as minhas rezas pagãs e os meus dislates imaturos; bem como os regatos impetuosos por onde voguei para escrever a minha poesia.