Arrebol
Autor: Oscar de Jesus Klemz on Thursday, 10 November 2022
É o lamento não equivocado
em um momento, a revelação
É o lamento não equivocado
em um momento, a revelação
na minha lembrança estão os oásis fraudulentos que nutriram as minhas rezas pagãs e os meus dislates imaturos; bem como os regatos impetuosos por onde voguei para escrever a minha poesia.
gostaria de volver à infância para purgar os corretivos que sofri; para reunir no meu íntimo os jogos que brinquei; para repor nos meus atos a roda-viva dos instintos; para andarilhar de novo nos trilhos da candura.
serpenteia a liberdade por entre os escombros do despotismo recolhendo os meus embaraços e cuspindo-os para o tinteiro da poesia; encorajando as minhas expedições ao cerne do mundanismo; transferindo para a minha razão os seus fulgentes estribilhos.
aparto-me das multidões para me libertar das suas posturas nocivas: para esgrimir contra as atoardas que injuriam; para espremer as ignomínias que persistem na sua verbalidade.
bloqueio as atuações mundanas para pelejar contra os seus enlaces pútridos e as suas divergências inflamadas; e para repreender os seus discursos malvados quando transpõem o umbral da literatura para deprimirem a poesia.
a poesia ignora os gritos obscenos das multidões quando exalta a sensibilidade daqueles que procuram a sua luz fulva e redentora; ou quando investiga as querelas sórdidas no alforge do mundanismo.
sou uma sentinela desabrida que busca a verdade para se poder serenar; que rejeita as sevícias e os dislates humanos; que encontra na poesia o bálsamo que nulifica os seus impulsos cruéis.
há timoneiros que esculpem nos povos arremedos distantes das suas raízes; que libertam o cheiro acre da violência naqueles que os impugnam; que ostracizam aqueles que se protegem dos seus clamores furibundos.
relevo a poesia que dirime a tristeza do seu autor; que robustece os aforismos que proliferam nos cânticos rotineiros; que extrai do seu âmago a ternura para que ela possa singrar.