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o poeta aponta o dedo aos cânones vigentes quando engendra a sua misantropia; quando se debruça sobre a malvadez humana para justificar os seus vexames e as suas abundantes exasperações.
as moléstias que eu exorcizo através da minha poesia... os tormentos que eu repudio através da minha escritura... os litígios que eu contesto através das metáforas que inundam a minha solidão...
a minha sensibilidade é agora jubilosa e transforma os meus desaires em meras formalidades; entorpece as minhas transgressões; esfralda o meu ânimo sobre os rochedos aguçados da difamação.
a minha poesia é trespassada por lucubrações que angustiam pelas escabrosidades que destapam; pelos ponderosos dilemas que transportam e que excitam uma grande veemência; pelas lágrimas que produzem nos espinhosos trilhos da candura.
há pessoas que instalam num círculo fictício as suas elevadas reputações; que hospedam as virtudes num desvão; que fragmentam as nossas vidas quando impulsionam os seus transes dolorosos.
cintilam os vocábulos dos poetas quando são relevados pelos seus desaires emocionais; pelas manigâncias a que não sabem resistir quando empunham o archote da sinceridade; pelas garras fincadas no seu atormentado viver quando recusam os conselhos dos outros.
a minha juventude foi absorvida por devaneios que me instalaram num cadafalso etéreo; por dádivas venenosas que lograram obter os favores do sentimento; por poemas concludentes aclamados pela razão.
o pensamento despedaça as fráguas da existência com a ira dum vagabundo acossado; ou com o vigor dum cavalheiro quando manifesta nas palavras que expressa uma grande altivez.
descubro caminhos fulgentes quando instalo a minha existência num lugar tranquilo: quando construo um tugúrio onde me arrojo contra a falsidade e o desconsolo; contra as atuações pérfidas da multidão.
as palavras fundamentam-me quando erradicam da minha alma tantos sentimentos lacerados; quando ampliam a minha coerência para recolherem uma ínfima glória; quando almejam a grandeza de quem escreve poesia.