Prosa Poética

Entre a Janela e a Porta

Entre a janela e a porta, mais de vinte e três anos se passaram. Anos de cigarro e vento, de insônia e prazer, quase nada sem arrependimento. Cada passo entre a porta à janela agora é mais fácil. Já fui mais fechado ao azul e ao violáceo. Outra janela, essa outra mais cheia de vida, tantas e tantas vezes pesou nos olhos a vontade da fantasia. Entre a janela e a porta, só o longe é possível. Estar entre a janela e a porta é usar os detalhes para preservar a miudeza da minha feiura irreparável. Vinte e três passos contidos. 

A lisura do tempo

Com lisura o tempo esconde-se por trás das cortinas
Da minha solidão algemada no domicílio de todos
Os lamentos provenientes de uma hora arredia, tão vadia
 
Por tudo e por nada vicio-me nesta saudade ali confinada
Ao latifúndio das tuas gargalhadas marginais, quase imemoriais
Ah, como serão esplêndidas as manhãs nascendo airosas e integrais
 
Com lisura o tempo faz defenestrar a luz provinda lá da planície das

Banquete da solidão

Uma alucinante e anárquica solidão flertou cada hora
Que além desgastada, dormita sobre os escombros do
Tempo tão senil, tão envelhecido e quase, quase escarnecido
 
Numa barafunda de palavras escrevinho meus versos que
Farram numa alquimia de lamentos tão crápulas e desconcertados
Perpassam com afinco os mais espalhafatosos sonhos tão asfixiados
 
Assim se banqueteia o tempo numa patuscada de uivos e urros escavacados

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