Surrealista

De incertitudine et vanitate scientiarum

Sicofantas do púlpito.
Sofistas do escárnio.
De joelho, beijam vossa face.
 
Na futilidade das coisas,
esculpem vãs acusações.
Trismegestiando elucubrações.
 
Oras, qual o preço da verdade?
Xenofantiando a imensidão
de meia verdades.
 
Não há moedas, ouro ou preço,
a se pagar pela verdade.
Não há suplícios a eterna-mentira.
 
Não há caminho maior que a verdade.

Logos

Nem Parmênides;
nem Heráclito!
Tão pouco Tales, 
Anaximandro, Anaxímenes...
 
Sabes, afinal, teu logos?
Logos que está,
Mas não está?
 
Logos, antítese de "palavra";
É o que precisas buscar!
De nada ou tudo, adianta.
 
Não percebes?
Logos aqui está.
Trilha-lo-ia um caminho
 
 
Da escura caverna se libertarás...
 

Adsumus

Neste mundo, o coração é um covil de assassinos,
antro de pestilência,
doença contagiosa:
epidêmica!

Dirijo-me pelos vales de sombras
e conduzo meu coração a luz,
E conheço-a, mundo,
este coração é
um covil pestilento

Apregoado na derme micosada,
pelos vales de ignorância,
conduzirei este coração e
me concebeis com um ente em sua morada!

https://www.poesiasnonsense.com/2018/03/adsumus.html

Memórias

 
Permita, quem sabe, a memória
Com olhar que penetra e me afoita
Permita, quem sabe, se esconda
Debaixo de importunas sombras.
 
Que as palavras descartadas e arredias;
As sílabas aprumadas sobre o esteio fizeram
Despertar, sem preocupação, tal redondilha
Que a flavus; aos poucos lhe entrego
 
Posto que é chama, que arda.
Posto que é ferida, que doa.
Permita-me, Deus, que morra
 

Desagoneio

Percebes a inigualável quimera,
quem entre os moucos assevera?
Chama que destrói e te espera
na leitosa bruma, prouvera?
 
Esperá-lo-ás como num devaneio?
Esperá-lo-ia! Num desagoneio
Na brisa matutina permeio
Essa quimera por quem esperneio...
 
Onde estás a camurça-cetim?
Caminhou a trilha, a Flor-de-cetim
Esquecê-lo-ás as sílabas deste folhetim
 
Onde estás a senhora-dama, perdida num festim?

Evocação lírica

A métrica é fática e lesada
À pratica transcende-a, ópio!
Sofrer-te, a cada dia, um hipópio,
moribundo rumo, mente brocada!
 
Em mais um dia, uma singela cantata,
conta-se as rima, como um larápio?
Conta-me segredo que ocupe mais espaço!
Horas passadas sem nenhuma serenata...
 
Ó, Orpheu! Se não foste eu?
Calíope, Erato, musa Polímia...
Apesar de tudo, se não foste, eu?
 
Ó,leva-me Tália aos Pirineus?

Veneno à conta gotas

 
                                                             A
                                                          cada
                                                      gole deste
                                                    veneno vamos
                                                vivendo, escondendo
                                                    as noites frias
                                                   e os dias cinzas.

Àquela pedra

Mesmo que a mesmice repita refletindo o reflexo,
Das verdadeiras verdades que sobem para cima,
Daquele muro cercado pelas suas imundas lamentações.
 
Estarei sentado e àquela pedra lamuriei:
Que no meio do caminho a pedra estava,
parada, refletia sobre o dia que não era dia...
 
A noite que não temia a chegada do sol,
filosofei, por receio, àquela pedra.

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