Surrealista

Veneno à conta gotas

 
                                                             A
                                                          cada
                                                      gole deste
                                                    veneno vamos
                                                vivendo, escondendo
                                                    as noites frias
                                                   e os dias cinzas.

Àquela pedra

Mesmo que a mesmice repita refletindo o reflexo,
Das verdadeiras verdades que sobem para cima,
Daquele muro cercado pelas suas imundas lamentações.
 
Estarei sentado e àquela pedra lamuriei:
Que no meio do caminho a pedra estava,
parada, refletia sobre o dia que não era dia...
 
A noite que não temia a chegada do sol,
filosofei, por receio, àquela pedra.

Esquizofrenia

Esquizofrenia pode desenvolver-se gradualmente,
tão lentamente que nem o paciente percebe!
 
Repentinamente, mudanças extraordinárias.
Dificuldade de concentração...
 
O que?
- Fugiu-me o assunto...
- Volte! Agora!
- Faço-me refém do presente! O que deixaria-me preso eternamente!
Assunto?
 
Esquizofrenia desenvolve-se gradualmente, lentamente...
Repentinamente,
- Que ano estamos, doutor?

Esclerótica Côncava

Calma, aprenda a sentir os anis anestésicos.
Licorosos e espumantes pensamentos, Orpheu!
Nega-te! Negue sua ilusória existência!
 
Fingirás, então, a dialética demagógica, além do Olimpo.
Pois remarás em remansos, morrerá no Aqueronte em prantos!
E ficará pasmo ao cantar a Caronte, sem nenhum encanto,
 
A inédita reprise desse canto!
 
 
(ARCHANGELO, A. Ápeiron, Ed. Buriti, 2019)
 
 

Iscariotes

Tudo bem?
Voltarei outro dia.
Talvez daqui um mês.
 
O tempo?
Não existe!
É fetiche, é traição,
Iscariotes!
 
Calma, levo-te,
levanto-te daqui um ano.
Talvez para sempre.
 
O tempo?
Não existe!
É fetiche, é traição.
Afrodite!
 
Leva-me embora carbono,
Lavo-me nas tuas chagas.
As que calam e consentem
 

Tamoios paulistas

Ourives perenes traga-me a impala,
A adaga viril, a condessa sú til.
Diamantes encravados na alma cigana
 
Ao cigarro e um copo de uísque
No conforto e na distração,
uma mente insana, porém cansada.
 
Desejos vidrados na televisão:
 
- Ao motim!
 
- Ao butim...
 
Tamoios paulistas circenses artistas
 
(ARCHANGELO, A. Ápeiron, Ed. Buriti, 2019)
 

Utopias ideais

Mentira, a mais bela de todas!
Mentira, a vida, ceifada aos prantos.
 
Passarás a vida inteira,
acreditando em seu suspiro?
Uivando seus delírios?
Cheirando a carnificina?
Apadrinhando a esperança?
Lutando por sonhos?
Utopias ideais?
Mazelas, pobreza ou riqueza?
 
E no fim, no silêncio,
imaginativo de teus passos,
um golpe: silencioso,
milagroso, escandaloso!
 

Poetas e porcos

Escrever é como atirar uma pedra,
na imensidão que divaga.
Perde tempo discutindo,
temas importunos...
 
Infiéis, cegos!
Inúteis, intelectuais!
 
 
Certos, só os porcos!
chafurdam no que acreditam,
e só param quando a fome saciam...
 
 
Enquanto alguns esperam Deus,
Outros chafurdam a lama...
Enquanto alguns filosofam,
Outros vivem a vã filosofia!
 

KAWNEIOU

Nada mais exato que o absurdo!
Vãs esforços realizados pelos homens.
 
O significado niilista do sentido;
Fracassarão finalmente?
 
Por teu ceticismo,
os princípios da existência...
 
Nada chega ao fim!
Afinal a quem interessa tal desfecho?
 
Uma vaca sabe seu propósito (superior);
Servi-lo-ás com tua vida,
os famintos!
 
(ARCHANGELO, A. Ápeiron, Ed. Buriti, 2019)

Brancos do Novo Mundo

Lá se vai,
o espumante Brut,
escorrendo pelo branco queixo...
 
A elegância empambada,
que se revela nos prantos,
dos açucares, provieram.
 
Terrines, vinhos,
sugaram as falésias d'alma,
E lá se foi todo o verão!
 
De uma vida  truz, liberta.
Bíbulos penhores,
ergasiotiquerologia albina.
 
 
(ARCHANGELO, A. Ápeiron, Ed. Buriti, 2019)
 

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