À SOMBRA DO CIPRESTE
Quero a folgança que me acende a paz
Das cordas ociosas de uma viola,
Sentir no lodo como em um jardim,
O suspiro perfumado da aurora.
Quando a vida florescer em meus olhos,
Não me enganarei com o tíbio vinho.
E, se eu retumbar meu hino leviano,
Trazei-me vosso prazer escarninho.
Devo respeito à sombra merencória
Que dorme em sua morada tristonha.
A morte é o regozijo inesperado,
Mente quem a julga triste e medonha.
Quão tácito é sentir que estou “sozinho”,
Penso até ser um cantador agreste.
Espreita-me a turba curiosa,
Sorrir e cantar aos pés do cipreste.
Não venho do alcoice, mas tenho afã
De cerrar a fronte e honrá-los absorto;
A cada albor surge uma escravidão,
Mas tudo acaba, quando se está morto.
Honro o cetro augusto que em vossos leitos,
Purga do mundo a vergonha incessante.
Embuçados de terra sóis mais limpos
Que muitos nobres de traje elegante.
Invejo-vos, pois a dor me acompanha
E nem os vermes serão tão vorazes.
Guardo o momento do cantar leviano,
E a mudez dos que não são mais capazes.
Em nome do sossego em vós afável,
Deixai-me, pobres irmãos, repoisar
Cansado de vogar em toscos mares
À sombra pálida de vosso altar.
ALEXANDRE CAMPANHOLA
Comentários
Maria Arlete
3ª, 24/02/2015 - 21:16
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Parabéns, Poeta !
Parabéns, Poeta !
Gosto de teu escrito.
Att, Maria Arlete