À SOMBRA DO CIPRESTE

Quero a folgança que me acende a paz
Das cordas ociosas de uma viola,
Sentir no lodo como em um jardim,
O suspiro perfumado da aurora.

Quando a vida florescer em meus olhos,
Não me enganarei com o tíbio vinho.
E, se eu retumbar meu hino leviano,
Trazei-me vosso prazer escarninho.

Devo respeito à sombra merencória
Que dorme em sua morada tristonha.
A morte é o regozijo inesperado,
Mente quem a julga triste e medonha.

Quão tácito é sentir que estou “sozinho”,
Penso até ser um cantador agreste.
Espreita-me a turba curiosa,
Sorrir e cantar aos pés do cipreste.

Não venho do alcoice, mas tenho afã
De cerrar a fronte e honrá-los absorto;
A cada albor surge uma escravidão,
Mas tudo acaba, quando se está morto.

Honro o cetro augusto que em vossos leitos,
Purga do mundo a vergonha incessante.
Embuçados de terra sóis mais limpos
Que muitos nobres de traje elegante.

Invejo-vos, pois a dor me acompanha
E nem os vermes serão tão vorazes.
Guardo o momento do cantar leviano,
E a mudez dos que não são mais capazes.

Em nome do sossego em vós afável,
Deixai-me, pobres irmãos, repoisar
Cansado de vogar em toscos mares
À sombra pálida de vosso altar.

ALEXANDRE CAMPANHOLA

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Comentários

Parabéns, Poeta ! 

Gosto de teu escrito.

 

                 Att, Maria Arlete