IMITAÇÃO DO ISLANDEZ
Autor: Soares de Passos on Tuesday, 4 December 2012
Um dia eu te dizia:--se roubada Me fôres, vem buscar-me--e tu não crias Que eu podésse abraçar-te inanimada, Beijar teus olhos, tuas mãos já frias. Mas eu não te amaria, se inconstante Te podésse esquecer na sepultura; Desbotou-se o frescor de teu semblante, Mas inda adoro tua imagem pura. Apagou-se em teus labios o ar da vida, Mas um sôpro immortal veio animar-te; E tu inda és formosa, inda és querida Ao que na terra começou a amar-te. Não me deixes em misero abandono; Escuta ao longe, escuta a minha prece: Quando uma noite a viração do outomno Gemer em nossas rochas, apparece! E se a lua brilhar, se de passagem Me estenderes a mão d'etherea alvura, Eu surgirei por vêr a tua imagem, Por ouvir tua voz serena e pura. Depois, anjo celeste, no meu seio Repousa a fronte, aperta-me em teus braços; Deixa que eu te acompanhe sem receio, D'esta existencia desatando os laços. Sobre a aurora do polo arrebatados Vamos, no seio d'immortaes venturas, Em nuvens d'ouro e purpura embalados, Cantar, sonhar, dormir n'essas alturas.
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