IMITAÇÃO DO ISLANDEZ

 

Um dia eu te dizia:--se roubada
Me fôres, vem buscar-me--e tu não crias
Que eu podésse abraçar-te inanimada,
Beijar teus olhos, tuas mãos já frias.


Mas eu não te amaria, se inconstante
Te podésse esquecer na sepultura;
Desbotou-se o frescor de teu semblante,
Mas inda adoro tua imagem pura.


Apagou-se em teus labios o ar da vida,
Mas um sôpro immortal veio animar-te;
E tu inda és formosa, inda és querida
Ao que na terra começou a amar-te.


Não me deixes em misero abandono;
Escuta ao longe, escuta a minha prece:
Quando uma noite a viração do outomno
Gemer em nossas rochas, apparece!


E se a lua brilhar, se de passagem
Me estenderes a mão d'etherea alvura,
Eu surgirei por vêr a tua imagem,
Por ouvir tua voz serena e pura.


Depois, anjo celeste, no meu seio
Repousa a fronte, aperta-me em teus braços;
Deixa que eu te acompanhe sem receio,
D'esta existencia desatando os laços.


Sobre a aurora do polo arrebatados
Vamos, no seio d'immortaes venturas,
Em nuvens d'ouro e purpura embalados,
Cantar, sonhar, dormir n'essas alturas.
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