POESIAS
Autor: Camilo Pessanha on Friday, 4 January 2013
Quando se erguerão as setteiras, Outra vez, do castello em ruina, E haverá gritos e bandeiras Na fria aragem matutina? Se ouvírá tocar a rebate Sobre a planicie abandonada? E sahiremos ao combate De cota e elmo e a longa espada? Quando iremos, tristes e sérios, Nas prolixas e vãs contendas, Soltando juras, improperios, Pelas divisas e legendas? E voltaremos, os antigos E purissimos lidadores, (Quantos trabalhos e perigos!) Quasi mortos e vencedores? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E quando, ó Dôce Infanta Real, Nos sorrirás do belveder? --Magra figura de vitral, Por quem nós fomos combater... Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar, Se alguma dôr me fere, em busca de um abrigo; E apesar d'isso, crê! nunca pensei num lar Onde fosses feliz, e eu feliz comtigo. Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito. E nunca te escrevi nenhuns versos romanticos. Nem depois de acordar te procurei no leito Como a esposa sensual do _Cantico dos canticos_. Se é amar-te não sei. Não seí se te idealiso A tua côr sadia, o teu sorriso terno, Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso Que me penetra bem, como este sol de inverno. Passo comtigo a tarde e sempre sem receio Da luz crepuscular, que enerva, que provoca. Eu não demoro o olhar na curva do teu seio Nem me lembrei jámais de te beijar na bôca. Eu não sei se é amor. Será talvez começo... Eu não sei que mudança a minha alma presente... Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço, Que adoecia talvez de te saber doente. Rufando apressado, E bamboleado. Bonet posto ao lado, Garboso, o tambor Avança em redor Do campo de amor... Com força, soldado! A passo dobrado! Bem bamboleado! Amores te bafejem. Que as moças te beijem. Que os moços te invejem. Mas ai, ó soldado! Ó triste alienado! Por mais exaltado Que o toque reclame, Ninguem que te chame... Ninguem que te ame... Ao meu coração um peso de ferro Eu hei-de prender na volta do mar. Ao meu coração um peso de ferro... Lançal-o ao mar. Quem vae embarcar, que vae degredado... As penas do amor não queira levar... Marujos, erguei o cofre pesado, Lançae-o ao mar. E hei-de mercar um fecho de prata. O meu coração é o cofre sellado. A sete chaves: tem dentro uma carta... --A ultima, de antes do teu noivado. A sete chaves,--a carta encantada! E um lenço bordado... Esse hei-de-o levar, Que é para o molhar na agua salgada No dia em que emfim deixar de chorar...
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