POESIAS

 

Quando se erguerão as setteiras,
Outra vez, do castello em ruina,
E haverá gritos e bandeiras
Na fria aragem matutina?

Se ouvírá tocar a rebate
Sobre a planicie abandonada?
E sahiremos ao combate
De cota e elmo e a longa espada?

Quando iremos, tristes e sérios,
Nas prolixas e vãs contendas,
Soltando juras, improperios,
Pelas divisas e legendas?

E voltaremos, os antigos
E purissimos lidadores,
(Quantos trabalhos e perigos!)
Quasi mortos e vencedores?

. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .

E quando, ó Dôce Infanta Real,
Nos sorrirás do belveder?
--Magra figura de vitral,
Por quem nós fomos combater...




Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dôr me fere, em busca de um abrigo;
E apesar d'isso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz comtigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos romanticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do _Cantico dos canticos_.

Se é amar-te não sei. Não seí se te idealiso
A tua côr sadia, o teu sorriso terno,
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de inverno.

Passo comtigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jámais de te beijar na bôca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma presente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.




Rufando apressado,
E bamboleado.
Bonet posto ao lado,

Garboso, o tambor
Avança em redor
Do campo de amor...

Com força, soldado!
A passo dobrado!
Bem bamboleado!

Amores te bafejem.
Que as moças te beijem.
Que os moços te invejem.

Mas ai, ó soldado!
Ó triste alienado!
Por mais exaltado

Que o toque reclame,
Ninguem que te chame...
Ninguem que te ame...




Ao meu coração um peso de ferro
Eu hei-de prender na volta do mar.
Ao meu coração um peso de ferro...
          Lançal-o ao mar.

Quem vae embarcar, que vae degredado...
As penas do amor não queira levar...
Marujos, erguei o cofre pesado,
          Lançae-o ao mar.

E hei-de mercar um fecho de prata.
O meu coração é o cofre sellado.
A sete chaves: tem dentro uma carta...
--A ultima, de antes do teu noivado.

A sete chaves,--a carta encantada!
E um lenço bordado... Esse hei-de-o levar,
Que é para o molhar na agua salgada
No dia em que emfim deixar de chorar...
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