PROVINCIANAS
Autor: Cesário Verde on Friday, 18 January 2013
I Olá! Bons dias! Em março Que mocetona e que joven A terra! Que amor esparso Corre os trigos, que se movem Ás vagas d'um verde garço! Como amanhece! Que meigas As horas antes de almoço! Fartam-se as vaccas nas veigas E um pasto orvalhado e moço Produz as novas manteigas. Toda a paizagem se doura; Tibida ainda, que frecas! Bella mulher, sim senhora, N'esta manhã pittoresca, Primaveral, creadora! Bom sol! As sebes d'encosto Dão madresilvas cheirosas Que entotecem como um mosto Floridas, ás espinhosas Subio-lhes o sangue ao rosto. Cresce o relevo dos montes, Como seios offegantes; Murmuram como umas fontes Os rios que dias antes Bramiam galgando pontes. E os campos, milhas e milhas, Com póvos d'espaço a espaço, Fazem-se ás mil maravilhas; Dir-se-ia o mar de sargaço Glauco, ondulante, com ilhas! Pois bem. O inverno deixou-nos. É certo. E os grãos e as sementes Que ficam d'outros outonos Acordam hoje frementes Depois d'uns poucos de somnos. Mas nem tudo são descantes Por esses longos caminhos Entre favaes palpitantes Há solos bravos, maninhos, Que expulsam seus habitantes! E n'esta quadra d'amores Que emigram os jornaleiros Ganhões e trabalhadores! Passam clans de forasteiros Nas terras de lavradores. Tal como existem mercados Ou feiras, semanalmente Para comprarmos os gados Assim ha praças de gente Pelos domingos calados! Emquanto a ovelha arredonda, Vão tribus de sete filhos, Por varzeas que fazem onda, Para as derregas dos milhos E molhadellas da monda. De roda pulam borregos; Enchem então as cardosas As moças d'esses labregos Com altas botas bartrosas De se atirarem aos regos! Eil-as que vem ás manadas Com caras de soffrimento, Nas grandes marchas forçadas! Vem ao trabalho, ao sustento, Com fouces, sachos, enchadas! Ai o palheiro das servas Se o feitor lhe tira as chaves! Ellas chegam ás catervas, Quando acasalam as aves E se fecundam as hervas!... II Ao meio dia na cama, Branca fidalga o que julga Das pequenas da su'ama?! Vivem minadas da pulga Negras do tempo e da lama. Não é caso que a commova Ver suas irmans de leite, Quer faça frio, quer chova, Sem uma mamã que as deite Na tepidez d'um alcova?! Nota: Incompleta esta poesia. Foram os ultimos versos do poeta.
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