Tempo
Autor: Maria Helena Co... on Monday, 1 January 2018Apenas aquele som estridente e ininterrupto
Apenas aquele som estridente e ininterrupto
a exaltação da sensibilidade em torno de panaceias concludentes que aplaudem as minúcias refletidas em vocábulos que espezinham a universal subserviência.
Tinha uma flor na trinca da terra seca
parecia trote ou mentira
o que lá for seja
mas uma flor ali tinha
apesar do sol
apesar de só
fora parida
ou plantada?
tinha um ar circunspecto
parecia ainda viva
de longe, uma miragem
de perto, um milagre
mas ninguém ousou arrancá-la
sequer tocá-la
mil selfies tiradas
mais tarde, um milhão de curtidas
nenhuma gota d’água
Poderá caber um ano inteiro numa poesia que até contenha o tempo?
Poderá ser um jardim?
Caber todo o mundo?
Um dia, monte ou sopé!
Inteiro:
Numa palavra começa, noutra conta-se num segundo:
Poesia?
Que me torna derradeiro:
Até!
Contenha o nada assim?
O amor verdadeiro?
Tempo!
Poderá caber o mundo?
Ou até um dia inteiro?
tenho essência de poesia:
com ela sou inteiro!
Meu contratempo?
Belo jardim!
o ano torna-se segundo:
recrudesce um bailado conduzido até à organização dos meus gemidos com versos livres de propósitos fraudulentos porque extravasam uma esperança que ultrapassa os escombros da minha juventude.